Livros de Areia

quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Já não há livros no King

Era uma das nossas livrarias de referência em Lisboa, e uma das raras onde, depois das 10 da noite e em pleno centro da cidade, ainda se podia ir folhear livros e, quem sabe, comprar (com a Barata, ali não muito longe). Estava bem situada, bem fornecida e tinha um dos livreiros mais simpáticos e profissionais que conhecemos, e que desde o início nos contactou e mostrou interesse nos nossos livros, o Pedro Serpa. Soubemos por ele que a livraria da Assírio&Alvim no King fechou. As novas lojas dos trezentos abrem onde querem e uma livraria não se consegue manter num dos locais mais hip e frequentados pela mesma classe de pessoas que torce o nariz às lojas dos trezentos e diz que faltam livrarias de qualidade... Enfim, fica o nosso sincero agradecimento ao Pedro pelo seu trabalho.

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

World Fantasy Award 2006

A lista dos finalistas, nas várias categorias, do World Fantasy Award 2006 pode ser consultada no blogue de Jeff VanderMeer. Jeff (já vencedor do prémio em duas ocasiões) foi membro do painel de juízes responsáveis pela selecção desta lista final, na qual se incluem Kafka on the Shore de Haruki Murakami, Lunar Park de Bret Easton Ellis e Vellum de Hal Duncan, entre outros.
P.S.: Mais uma versão da entrevista a Jeff VanderMeer por José Mario Silva, desta feita no blogue A Invenção de Morel.

terça-feira, 15 de agosto de 2006

Ainda Borges

Já o conhecíamos há algum tempo, mas não é tarde para referir que há um pequeno e muito bem feito site português sobre Jorge Luís Borges. Borges, o outro, o mesmo é o seu título, e foi criado por Ilídio Vasco no âmbito da Pós-Graduação de Edição de Texto da FCSH-UNL, dirigida por Fernando Cabral Martins e João Luís Lisboa.

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Problema informático

Um problema com o nosso sistema informático fez-nos perder ou danificou os emails recebidos durante os dias 6 e 8 na caixa das Encomendas. Por favor, pedimos a quem nos fez encomendas de livros através desse email que repita o pedido.
Aproveitamos também para indicar a quem quiser obter informações sobre o nosso trabalho por email (i.e, fazer parte da nossa 'mailing list'), que pode simplesmente contactar-nos para a caixa Feedback.

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

Continua



Mais detalhes aqui.

Grãos de areia III

Alguns excertos dos nossos livros, que se encontram à venda nas livrarias indicadas na nossa lista, ou no nosso site. Ainda vão a tempo de levar um bom livro para férias.



"Foi um processo imparável. Como o tango, o futebol cresceu a partir dos subúrbios. Era um desporto que não exigia dinheiro e podia-se jogar sem mais nada do que a simples vontade de o fazer. Nos campos baldios, nas ruelas e nas praias, os rapazes crioulos e os jovens imigrantes improvisavam jogos com bolas feitas de meias velhas, cheias com trapo ou papel, e um par de pedras para simular a baliza. Graças à linguagem do futebol, que começava a tornar-se universal, os trabalhadores expulsos do campo entendiam-se às mil maravilhas com os trabalh
adores expulsos da Europa. O esperanto da bola unia os nativos pobres com os camponeses que tinham atravessado o mar vindos de Vigo, Lisboa, Nápoles, Beirute ou da Bessarábia e que sonhavam construir a América a levantar paredes, a carregar fardos, a cozer pão nos fornos ou a varrer ruas. Bela viagem a do futebol: tinha sido organizado nos colégios e universidades inglesas, e na América do Sul alegrava a vida de gente que nunca tinha posto o pé uma escola. Nos campos de Buenos Aires e de Montevideu, nascia um estilo. Uma maneira própria de jogar futebol começava a impor-se, ao mesmo tempo que uma maneira própria de dançar se afirmava nos pátios milongueiros. Os dançarinos desenhavam filigranas, floreando-se nos limites de uma única laje de pavimento, e o futebolistas inventavam a sua linguagem no minúsculo espaço em que a bola não era pontapeada mas retida e possuída, como se os pés fossem mãos entrançando o couro. E nos pés dos primeiros virtuosos crioulos nasceu el toque: a bola tocada como se fosse uma guitarra, fonte de música."
(Eduardo Galeano, Futebol: sol e sombra, tradução de Piedade Pires, 12 €, pp. 48-49)

Grãos de areia II

Alguns excertos dos nossos livros, que se encontram à venda nas livrarias indicadas na nossa lista, ou no nosso site. Ainda vão a tempo de levar um bom livro para férias.



"A balouçar no cordoame com uma faca entre os dentes, o flibusteiro das lendas populares tem de tomar c
uidado para não cortar a língua. Precisará dela mais tarde, para uma senhora cujo corpete esteja já prestes a rebentar ao som das suas botas no convés por cima do camarote. Não obstante as suas raízes aristocráticas e maneiras refinadas, ela irá encontrar muito que admirar na coragem, estilo e olhos cintilantes do flibusteiro. Ele já não troca de camisa há um mês, mas o seu abraço não estará húmido de suor. Porque este é o flibusteiro das novelas de capa e espada, uma figura romântica, acrobático e ousado ao invés de faminto e cruel. O seu hálito não cheira a carne crua e a botas cozidas. Ele é um herói-malandro e os seus dentes são pérolas.

O flibusteiro da realidade é uma figura mais grosseira, menos inclinada para a ternura ou para a elegância. A sua principal motivação é o saque e ele está disposto a adquiri-
lo até aos extremos do comportamento mortal. Isto pode incluir dançar com intestinos ou assar freiras no espeto. O mais terrível de todos, o famigerado François l’Olonnais, lança olhares mal-intencionados de trás da verdade do mar das Antilhas, arrancando corações e ferrando-lhes os dentes, com o sumo vermelho a esguichar-lhe para o olho antes de cuspir o órgão palpitante com uma praga blasfema. Escravo do perigo, da fúria e da vingança, iniciou carreira como um tipo de escravo menos abstracto, um criado contratado, engajado para o mundo insular das Caraíbas quando era ainda um rapaz."
(Rhys Hughes, "O mascador de corações: François l’Olonnais", in Uma nova história universal da infâmia, tradução de Nuno Cotter, 15 €, pp. 43-44)

Grãos de areia I

Alguns excertos dos nossos livros, que se encontram à venda nas livrarias indicadas na nossa lista, ou no nosso site. Ainda vão a tempo de levar um bom livro para férias.



"A treta é inevitável sempre que as circunstâncias permitam que alguém fale sem saber do que está a falar. Assim, a produção de treta é estimulada sempre que as obrigações ou as oportunidades de alguém falar sobre um determinado assunto excedem o seu conhecimento dos factos relevantes para esse assunto. Esta discrepância é comum na 'vida pública', na qual as pessoas são frequentemente impelidas – quer pelas suas próprias inclinações, quer pelas exi­gências alheias – a falar extensamen­te sobre ma­té­rias das quais são, em variados graus, ignorantes.
Exemplos semelhantes surgem como efeito da convicção generalizada que uma das responsibilidades dos cidadãos de uma democracia é terem opiniões sobre tudo, ou pelo menos sobre tudo o que tenha a ver com a condução da política do seu país. A carência de uma ligação significativa entre as opiniões de uma pessoa e a sua apreensão da realidade será ainda mais grave, escusado será dizê-lo, em alguém que acredite ser sua responsabilidade, como agente moral consciente, avaliar acontecimentos e condições em qualquer parte do Mundo."
(Harry G. Frankfurt, Da treta, tradução de Piedade Pires, 10 €, pp. 73-74)