Livros de Areia

domingo, 29 de abril de 2007

Distribuição

Vamos passar a ser distribuídos pela 90º (Noventa Graus), pelo que pedimos aos livreiros desculpa pelo incómodo e (aos que ainda não o fizeram) alguma celeridade nas devoluções, e aos leitores alguma paciência pois em breve os livros regressarão às livrarias. Aos livreiros que apostaram em nós durante este ano e meio de "distribuição directa", os nossos agradecimentos.

No forno

Estamos a preparar, neste momento, dois títulos até ao Verão.
A sereia de Curitiba
de Rhys Hughes, que sairá mais tarde do que planeámos (possivelmente, já durante o Verão), devido a uma produção algo atribulada, o que só fica bem, diga-se, a um livro de Rhys Hughes. Trata-se do seu livro mais estranho até à data, um emaranhado de contos sobre esse mito do Sul lusofalante (Brasil, Madeira, Lisboa, Lua... bem, isso é outra história...) que põe estrelinhas nos olhos dos galeses roufenhos e sombrios. Pelo menos, a este galês.

(A Gerência recomenda vivamente o consumo da série completa de The Mighty Boosh de Noel Fielding e Julian Barratt, antes, durante ou logo após a leitura deste próximo título de Rhys Hughes. Administração visual e auditiva, uma vez por dia.)
Quanto a Chance, de Jerzy Kosinski, estará pronto durante o mês de Junho. Em breve, tiraremos uma amostra do forno para mostrar aqui.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Milnovecentosesetentaequatro





































[ Marcelo Caetano | trailer de Chinatown | cerco ao Quartel do Carmo | trailer de The Conversation | Rinus Michels fala da final do Mundial | Bowie | a montagem da "Parallax Corporation" | trailer de Dark Star | Windows de Peter Greenaway | incêndio do Edifício Joelma, São Paulo | Águas de Março | trailer de Foxy Brown | casal francês na Etiópia | A bigger splash: David Hockney | casamento na Ucrânia | Patty Hearst | cena de O Espelho de Andrei Tarkovski | cena de As armas e o povo de Glauber Rocha ]

Vénia - II


Em 1974, houve, pelo menos, duas Revoluções. Uma em Abril, em Portugal; outra em Junho, na Alemanha. A primeira em tons verde-camuflado e vermelho-cravo, a segunda em laranja-eléctrico. E ambas derrotaram ditaduras: a primeira, fê-lo nas ruas e com tanques; a segunda, fê-lo no relvado. A humilhação que o Uruguai, a Argentina e o Brasil sofreram então às mãos da "Laranja Mecânica" de Cruyff não permitiu, porém, o mesmo efeito que houve em Portugal.
Adolescente, David Winner lembra-se de ter sentido esses novos ares ao ver, pela TV, entrar em campo a selecção da Holanda para o primeiro jogo do Mundial. Sentiu que, mais do que uma equipa de futebol, entrava ali uma nova mensagem estética, ética e política. Quatro anos depois, Winner voltou a sofrer com a derrota da melhor equipa de futebol do mundo, vingada pela Argentina do General Videla, a quem os jogadores holandeses recusaram sequer uma troca de olhares no fim, em sinal de protesto político.


Partindo dessa epifania longínqua, Winner procura entender, não só a psique holandesa e os seus polos contraditórios de perfeccionismo calvinista e neurose latina, mas também como o futebol, num determinado período, foi uma das máximas expressões da sua particular demanda pelo espaço perfeito e racional. Com capítulos como O espaço holandês é diferente, Curvas e A beleza do pensamento, depoimentos de artistas como Hans Van der Meer e alusões à obsessão de Rudolf Nureyev pelos movimentos de Cruyff em campo, este é, na verdade, um ensaio sobre estética e socio-política camuflado de livro sobre futebol. Ou seja, uma proposta tão neurótica e excitante como o seu objecto de estudo. Não foi por acaso que a Time Out o incluiu numa recente lista de "livros de culto".

De novo, mas por pouco tempo



O trânsito de livros devido ao facto de estarmos a passar a distribuição para uma empresa está a fazer com que voltem à base alguns (mas poucos) exemplares de A transformação de Martin Lake de Jeff VanderMeer. Fica aqui o aviso aos muitos leitores que nos têm pedido este título já depois de o nosso stock ter esvaziado: aproveitem, pois o mais certo é que os livros voltem para as livrarias, via distribuidora.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Andava perdido



Andava perdido, mas eis que o link para a entrevista de Harry Frankfurt a Jon Stewart no Daily Show de 14.03.2005, a propósito de On Bullshit (DaTreta), volta a estar disponível.

A sombra



Recentes eventos (um golo a papel químico de outro golo, famoso de há mais de 20 anos, e um internamento) voltaram a pôr o nome de Maradona nos jornais. Mas Maradona agora é mais um fantasma, uma sombra: laudatória e nostálgica, no golo de Messi; triste e embaraçosa, no caso clínico.
Luis Octávio Costa escreveu sobre ele no caderno P2 do Público de 21.04 (p. 5). Citou o texto de Eduardo Galeano, retirado de Futebol: sol e sombra, um texto que, há dez anos, diagnosticava com rigor o caso "Maradona" e anunciava o seu triste fim. Curiosamente, o primeiro texto sobre Maradona do livro refere-se a outro espantoso golo seu, desta vez marcado quando tinha apenas 12 anos, numa altura em que jogava só por prazer e por amizade, evitando a "inveja e o egoísmo" que o dinheiro traz. O último golo da inocência, quem sabe.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

14:30, na "periferia da periferia"*

No seguimento de um convite informal, quase familiar, demos por nós bem no coração do concelho de Caminha, na escola primária de Seixas. Numa sala relativamente pequena, estavam todos os alunos dessa escola: pouco mais de uma trintena. A totalidade dos alunos. O pretexto foi uma coisa bizarra: dois editores da "periferia" a falar disso de "editar livros" a crianças da "periferia da periferia". De livros, tal como é hábito por essas escolas, quase nem sombra. As condições são as possíveis, e ao todo a escola dispõe de 4 computadores para as actividades ligadas à aprendizagem das novas tecnologias.
Não deixa de ser um exercício refrescante de completa humildade explicar coisas pomposas a miúdos para quem um pacote de leite chocolatado e um pão com manteiga são a coisa mais importante da tarde. Serão estes os leitores de amanhã? Os editores? Já se distinguem alguns pelo brilho nos olhos, pela vivacidade. Mas que lhes vamos deixar, afinal?
Ao explicar a regra dos 10% de direitos, usando uma analogia com a existência de dez automóveis dos quais um teria de ser dado ao autor, e outros quatro aos livreiros, ficando nós com cinco, um dos miúdos fez notar que, tendo cinco carros, o melhor era vendê-los. O dinheiro é aqui muito importante. Estes miúdos vivem numa terra que não tem trabalho para os pais, nem para os irmãos mais velhos (a emigração é, de novo, corrente no Norte profundo), são crianças a quem não foi permitido começar com o pé direito. Alguns deles são, e a palavra é usada vulgarmente em conversa, "abandonados". Livros são um verdadeiro luxo, um luxo incompreensível que "loucos" que trabalham em bibliotecas ambulantes ou teimosas professoras continuam a tentar fazer quotidiano.
"E se os livros não venderem?", pergunta-nos um miúdo com menos de 10 anos. Na "periferia da periferia", o fracasso, lentamente digerido, é algo de quotidiano também: tudo pode correr mal, porque já tudo correu mal antes. Mas os sorrisos que, por alguma razão, nos lançaram são a prova da maior generosidade: um sorriso em troca do pouco que lhes levámos é um grande negócio! Obrigado!
(PM)
* com uma vénia a Mário Santos, do extinto Mil Folhas. Por onde anda?

domingo, 15 de abril de 2007

Daydreaming



Eis algumas ideias para projectos que poderiam preencher a lacuna que a ausência de imprensa escrita especializada vai deixando cada vez mais larga:
- uma edição Portuguesa da Bravo : a Abril poderia criar uma mini-Bravo em edição Lusa, mantendo o mesmo estilo que mistura um musculado sentido comercial com sofisticação gráfica e editorial. Terá a Abril coragem de arriscar num projecto deste cariz neste confuso rectângulo lusofalante?
- a Lisbon Review of Books (já pararam de rir?) : será preciso lembrar que tanto a Review of Books de Nova Iorque como a de Londres surgiram como resposta a períodos de crise na imprensa escrita? Se o fim de suplementos e o emagrecimento de secções culturais por esses jornais de referência significar um aumento de críticos e cronistas aptos, ávidos e sem emprego, porque não fazer o que outros fizeram antes e com sucesso? As editoras teriam todo o interesse em pagar com publicidade a existência de um projecto independente de interesses de monolíticos grupos de media.
- uma edição portuguesa da Lire ou da QuéLeer? : sejamos sinceros: um mercado editorial como o nosso precisa de, no mínimo, 2 revistas concorrentes e activas. Se ao fim destes anos, o esforço nacional não conseguiu produzir mais do que uma revista mensal e uma revista-que-agora-se-diz-anual, está na hora de os espanhóis ou os franceses entrarem na liça. Se a edição portuguesa do Courrier International parece estar a caminhar bem, porque não uma Ler que seja de facto para ler todos os meses, ou uma OQueLer? que se junte à festa e crie concorrência?
- suplementos portugueses nos jornais espanhóis : se eles já cá estão a investir no mercado editorial, se os agentes deles levam a fatia mais gorda dos advances e dos royalties pagos por editoras portuguesas, e se está provado que os seus jornais de referência sabem dar valor aos suplementos, porque não esperar ter, por exemplo, um Babelia Portugal aos Sábados, nem que seja com 4 páginas (as mesmas, ao fim e ao cabo, do Ipsilon para os livros)?
( Nota: não, a imagem não foi escolhida ao acaso... )

sábado, 14 de abril de 2007

O nojo e a nata

Isto é um nojo:



E isto é mesmo o que eles estavam a pedir:


(imagem de Daniel Oliveira)

Um governo que paga e regula a formação de milhares de pessoas e que depois, além de as lançar na arena liberalista do mercado de trabalho, paga uma campanha destas deixou de contar e merece estas charges. O Jon Stewart teria dito kudos to you, sir! E eis um documento que, mais uma vez, convém revisitar.

Erase and rewind



A propósito, lembrei-me de repente do ano de 1996. A então direcção da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto pretendia comemorar os 20 anos de associativismo estudantil (a AEFLUP representava, na altura, uma das maiores populações discentes universitárias do país, se não mesmo a maior), quando descobriu, com "espanto", que o sótão das velharias, ou, mais pomposamente, o "arquivo" tinha sido sistematicamente limpo pelas sucessivas direcções, incluindo, claro está, a mais recente. Resultado: não havia nada para exibir. Isto incluia umas largas dezenas de exemplares restantes da única revista feita, paga e distribuída por alunos daquela faculdade, Íncubo (em cujos dois únicos números participei, e que desenhei, e cujas matrizes do segundo número se perderam também nesse dilúvio), bem como incontáveis outros exemplos de trabalho feito por alunos dentro dos limites daquela instituição. Restou apenas o cartaz para um evento vazio de amostras de um passado que o justificasse.
Erase/rewind foi, pouco tempo depois, um hit dos Cardigans, mas desde aí é, para mim, um claro sinal de atavismo das "direcções".
(PM)

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Mais um



Ou melhor, menos um. Depois do Mil Folhas (o único suplemento literário a sério na imprensa portuguesa durante anos), chegou a vez do 6a. À imagem dos detentores do Público, a Controlinveste, detentora do Diário de Notícias, parece também não saber manter o que de bom foi criado por si (erase and rewind parece ser a norma quando as direcções se renovam...), pondo termo a um dos melhores suplementos de novas tendências culturais, que conseguia unir num todo homogéneo os quase opostos mundos da música e da edição de livros com um estilo que encontrava equilíbrio entre os pólos comercial e erudito, e ao qual não era alheio o brilhantismo de Nuno Galopim, José Mário Silva, João Céu e Silva e de todos os redactores desse suplemento. Era também um dos suplementos mais bem desenhados, com uma grelha serena que melhorava alguns excessos do antigo DNa.
Lê-se no Meios&Publicidade sobre o
"descontinuamento da 6ª" que os conteúdos que faziam parte deste suplemento “irão ser redistribuídos pelo jornal, ao mesmo tempo que a secção de cultura do DN sairá reforçada às sextas-feiras”. Mas uma secção de cultura "reforçada" não merece um suplemento?...
Não se notou nada desse "reforço" hoje, e de dentro do jornal caiu uma revistinha, formato Maria, sobre a programação da TV...
Num país onde os livreiros só se mexem quando os leitores curiosos se dirigem aos balcões das livrarias para pedir livros, e onde os leitores curiosos só vão às livrarias quando vêm a capa de um livro num jornal, qual a consequência destes "descontinuamentos" na crítica, promoção e divulgação dos livros na imprensa escrita?
P.S.: Rui Bebiano com um excelente post sobre isto, aqui.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Vox

Alguns excertos do que se tem dito por aí sobre nós.

"...ocasião de descobrir a editora Livros de Areia que, para além uma muito interessante lista de livros publicados e excelente qualidade gráfica, arrebatou imediatamente o título de 'melhor site de uma editora portuguesa'."
(
Daniel J. Skråmestø )

"
Pelo carácter disruptivo desta tecnologia, os meus parabéns à Quasi e à Livros de Areia por estarem na vanguarda da antecipação tecnológica na comunicação de livros em Portugal."
( Extratexto )


"
Não é fácil encontrar por aí os livros da editora Livros de Areia. Mas vale a pena. O design do site é impecável (e vale a pena procurar o trailer da próxima saída, de uma originalidade inédita por cá), os livros recomendam-se. Os autores publicados espelham, desconfio, o gosto dos editores. E a julgar pelos títulos, é um gosto exemplar.
( Sérgio Lavos )

"esta editora é vertiginosamente competente na criação de objectos belíssimos, com os melhores papeis, o melhor design, as melhores ilustrações (até lá têm o joão maio pinto - fabuloso) e, mais importante, grandes textos. sugiro a passagem pela excelente página da editora"
( valter hugo mãe )

"Só para deixar os parabéns pelo excelente site. Design, informação, tudo. Continuem pf!"
( João Ferreira - Marketing Specialist PRIMAVERA – BUSINESS SOFTWARE SOLUTIONS, por email )

"Recebi os livros, no dia 23 de dezembro!!! Sim, antes do Natal!!!
Muito obrigada, mamãe ficou tão feliz!! Imagina, ela leu o livro, emprestado, há 20 e tantos anos atrás, quando era adolescente. Pediu para eu comprar e eu não encontrava em lugar nenhum. Ela já estava achando que fosse ilusão da sua cabeça, hehehe. Aí, graças à vcs, encontro o livro e damos de presente de Natal... perfeito! E a sanidade mental dela está garantida, hahahaahah.
Para mim, isso é uma pequena conquista. Conquista de um sonho, pode ser simples, mas é um sonho. E sonhos são destinados à realização!!"
( Isis F., Rio de Janeiro, sobre O Pássaro Pintado, por email)

terça-feira, 3 de abril de 2007

Vénia - I

Começamos aqui uma série que visa apontar excelentes exemplos de edição, coisas que também gostaríamos de ter feito. Ou de fazer. Talvez em sonhos... Queríamos chamar-lhe DOR DE COTOVELO, mas, em vez da honestidade, optámos pela solução mais politicamente correcta. Marché oblige.
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Por esta ninguém esperava. A Presença não é propriamente conhecida pelo seu apuro gráfico, mas desta vez esmerou-se: tudo aqui está correcto, bate certo e merece sucesso.
Até o formato nos trouxe as boas memórias daquela colecçãozinha estranha da Estampa, a das capas negras.

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domingo, 1 de abril de 2007

Uma trajectória : Lázaro Covadlo


Vale a pena dar um salto à página de Lázaro Covadlo e ver a sua "trajectória", um eufemismo modesto para uma vida cheia, nascida da diáspora judaica e continuada na sua própria diáspora pessoal. Um exemplo que os púberes aspirantes a escritores, tão em moda hoje em dia, deviam reter: primeiro viver, depois viver mais um pouco e só depois escrever.

Previsões de 1 de Abril

Não será um dia muito sólido para anunciar próximos títulos, mas cremos que alguns deles se enquadram na tradição satírica e propiciadora de dúvidas deste 1 de Abril. A começar por Chance de Jerzy Kosinski, uma curta novela que previu, há quase 40 anos, a chegada da vacuidade absoluta a Washington e que lançaremos em Maio, com introdução de David Soares.
Em Junho contamos poder voltar a deixar Rhys Hughes à solta em Portugal com Sereia de Curitiba, uma colectânea de contos escritos ad hoc com vista ao prazer dos leitores do universo lusófono e com tradução de Safaa Dib.
Ainda sem data prevista, e dependendo da agenda do seu autor para uma visita a Portugal, lançaremos uma colectânea de contos de Bruce Holland Rogers, autor que conquistou já o World Fantasy Award e que leva o adjectivo short muito a sério nas suas stories. O volume, ainda sem título, terá a tradução e organização de Luís Rodrigues.
Após o Verão, voltaremos a reunir esforços para apresentarmos novos títulos no Fórum Fantástico de Lisboa. Na calha estão O sonho de Borges de Blanca Riestra e O livro de Lovecraft de Richard Lupoff. E O estreito de Bering, um pequeno ensaio de há 20 anos sobre a Ucronia escrito por Emmanuel Carrère, o mesmo de L'Adversaire e La Moustache.
Por falar em ensaios, está também na calha Da verdade de Harry Frankfurt, completando o díptico iniciado em Da treta.
Poucos mas bons (e, se possível, bem feitos...) continua a ser o lema por aqui.

Ainda mexe II



Ora aqui está. Ainda que no limite de algum sentimentalismo (a lágrima da criança era desnecessária...), eis um belo exercício à volta do livro de Jerzy Kosinski.