Livros de Areia

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Complemento de leitura



Apesar de nunca ninguém ter querido (ou podido) adaptar O pássaro pintado para o cinema (sobretudo o único que poderia fazê-lo com total domínio da matéria, Roman Polanski), restam alguns filmes que passaram a experiência das crianças na chamada "Frente Leste", durante a Segunda Guerra Mundial. O mais sério candidato a "complemento" de leitura do livro de Jerzy Kosinski acaba de ser editado em Portugal: Vem e Vê, de Elem Klimov, o último grande sucesso internacional do cinema da então (1985) URSS.



Pode diferir no cenário (Bielorrússia, em vez da Polónia) e em outros detalhes que derivam da história contada, mas raras vezes um filme conseguiu o mesmo nível de visceralidade e urgência que lemos n'O pássaro pintado.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Bem vos dissemos



Para os que não acreditaram que o rosto de George W. Bush devesse estar na capa de Chance de Jerzy Kosinski: vejam, neste segmento do Daily Show de Jon Stewart, como o Grande Líder conduz (em círculos, inevitavelmente) um moderno... aparador de relva. A vida a copiar a ficção? A resposta pode bem estar nas páginas do livrinho. Bem vos dissemos, e bem nos avisou a todos o senhor Kosinski.


domingo, 20 de janeiro de 2008

Garrincha por Galeano


Hoje cumprem-se 25 anos da morte de Garrincha, um dos maiores jogadores de futebol da História, e a mais brilhante e trágica súmula do sangue índio e negro do Brasil, que, à imagem do país, brilhou nos Anos Dourados de 1958-1964, e morreu na sarjeta, alcoólico e só, no auge da ditadura. Se não o fizeram ainda, leiam aqui o que dele escreveu Eduardo Galeano, um dos muitos textos inesquecíveis de Futebol: sol e sombra. (E, se encontrarem um exemplar, leiam o conto de Edilberto Coutinho Maracanã, Adeus, no livro homónimo editado pela Caminho há pouco mais de 20 anos.)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Subscrevemos

Este texto de Eduardo Pitta, pela sua justeza, merece-nos a total adesão e subscrição. Com o seu Bibliotecário de Babel, José Mário Silva parece-nos estar na vanguarda de uma mudança de paradigma na relação dos editores e leitores com a "imprensa" ou, mais genericamente, os media que divulgam, promovem ou criticam a produção editorial, mudança essa de que vimos sendo aqui regulares defensores.
Conhecemos o José Mário Silva desde que, em Julho de 2006, nos respondeu a um email promocional sobre a vinda de Jeff VanderMeer a Portugal (e de forma inesperada, pois já não esperávamos qualquer feedback em plenas férias estivais), a propósito da edição de A transformação de Martin Lake & outras histórias. Que tinha adorado o excerto que enviáramos em PDF, e de tal forma que, quase sozinho na redacção do Diário de Notícias, iria sacrificar a merecida placidez de um dia de Verão para preparar uma entrevista a este autor desconhecido. O profissionalismo com que preparou a entrevista e a sessão fotográfica, e a profundidade de leitura que a primeira revelou aquando da sua saída, tornou-nos leitores dos textos deste escriba que quase desconhecíamos. As posteriores apresentações que fez de O pássaro pintado e, sobretudo, de A sereia de Curitiba, revelaram, além do profissional da escrita jornalística, um estusiasta dos livros, capaz de digerir textos complexos em poucos dias e retirar-lhes um sentido que expõe com a maior simpatia e humildade.
A passagem para o blogue é um passo arriscado para um jornalista que fez o seu nome na imprensa de circulação nacional, e esse risco é merecedor dos melhores votos de sucesso, sobretudo naquilo em que o BdB parece querer marcar terreno: divulgação e informação sobre este esquizofrénico mundo da edição, procurando um canto sereno de onde possa ver para além fogo de artifício (leia-se o seu brilhante post sobre o grupo LeYa). Este pode ser um primeiro passo (acompanhado, claro, por projectos como o dos Booktailors, o labor de Luís Filipe Cristóvão, entre poucos mais) de uma revolução.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Dois mil e sete, ano dois

Antes que um tal texto se tornasse exercício de história antiga, aqui ficam umas palavras sobre o ano que terminou há dias, o nosso segundo ano de existência.

À nossa lista de autores, acrescentámos três novos, Lázaro Covadlo, Blanca Riestra e Bruce Holland Rogers, que trouxemos a Portugal para que apresentassem os seus livros. Essas deslocações tiveram o amabilíssimo apoio de entidades como o British Council (em especial, a Dra. Isabel Lopes, pelo seu esforço e simpatia), a Embaixada dos Estados Unidos da América e as organizações das Correntes d'Escritas e do Fórum Fantástico, a quem todos os agradecimentos pecarão por defeito. Continuámos, pois, na senda dupla de revelar autores completamente desconhecidos aqui (no que se incluiu mais um livro de Rhys Hughes) e de resgatar do "baú" dos esquecidos obras e autores válidos para o nosso catálogo e o nosso tempo (a continuação da publicação de Jerzy Kosinski é disso exemplo). Uma breve consulta aos press-clippings da nossa página Press permitirá concluir isso mesmo.

Num ano em que passámos da distribuição directa para os serviços de uma distribuidora, a nossa relação com as livrarias conheceu o seu lado mais delicado, o das devoluções (lentas) e das respectivas facturações (muito mais lentas, tendo mesmo um caso em que somos credores de uma quantia inferior a 300 euros há mais de 6 meses). Ainda assim, os exemplos de livreiros que já aqui tínhamos realçado mantiveram o seu nível de profissionalismo, também na hora do pagamento, o mesmo se passando com grandes cadeias. Sem orçamento para produzir os "rebuçados" de que os livreiros mais tradicionais parecem gostar tanto (figuras dos autores sorridentes recortadas junto a pilhas de livros, anúncios de página inteira no Expresso, etc), estamos totalmente dependentes do boca-a-orelha, que é falível apenas no balcão, no momento em que um livreiro mal informado, sem recurso à internet e pressionado para vender o seu 500.º exemplar do último best-seller responde "não conheço, "está esgotado" ou "nunca ouvi falar", mesmo se se lhe acena com uma revista ou jornal onde aparece um texto sobre o livro pedido. Esse boca-a-orelha é hoje, e cada vez mais, a blogosfera, e esperamos que projectos tão profissionais como o Bibliotecário de Babel e o Blogtailors ajudem a impor a consulta dos blogues como último passo antes da ida à livraria, ou – milagre esperado com ansiedade, mas ainda distante em Portugal – da compra online.

Ainda sobre promoção: uma pequena e nova livraria de Lisboa, a Círculo de Letras (entre a Av. Roma e o Campo Pequeno), parece ter resolvido o ovo de Colombo. Um monitor ligado a um computador, virado para uma montra que dá para uma rua. Parece demasiado simples, mas esta pode ser uma forma económica e totalmente digital de expor aos transeuntes conteúdos promocionais, quer feitos pela livraria, quer (eis a cereja) pela própria editora. Como um projecto que desde o início aposta na promoção com base nas novas tecnologias (sobretudo os nossos filmes Flash, todos consultáveis no site), aplaudimos e estaremos receptivos a esta experiência. Nem a Byblos se lembrou de tal coisa, preocupada que está em acompanhar Bertrand e FNAC na tradicional afixação de cartazes impressos com os rostos dos autores do cânone dos tops, isto apesar da anunciada inovação tecnológica. (Sobre esta livraria apenas podemos falar com base numa visita em Dezembro, mas a sensação que ficou foi a de mais-do-mesmo).

Não foi um ano prolífico em quantidade, mas também nunca prometemos invadir o mercado. A aposta em livros cuidados, comerciais e apelativos continuou, e para ela contribuiram novos colaboradores ocasionais ou de mais longa data. Para além do guru Luís Rodrigues (o nosso quinto Beatle, sexto Stone, etc), temos de agradecer a Safaa Dib, Francisco Guedes, Paulo Barros, Rita Figueira, Margarida Ferra, bem como ao profissionalismo de Nuno Santos, Valérie Suire e Susana Vasquez.

E que as bocas continuem a soprar às orelhas, e os pés façam o resto do caminho...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

A Gerência agradece



A capa da nossa edição de O sonho de Borges lá deu por si na lista de finalistas na categoria de Melhor Capa de 2007 dos Prémios Livros do Dia, promovidos pela livraria de Luís Filipe Cristóvão em Torres Vedras, que mostra assim como as livrarias "pequenas" ou independentes podem liderar o caminho e inovar.
Que saibamos, trata-se do único prémio que, além das costumeiras categorias, inclui uma para o design da capa. Seria interessante, em edições futuras, alargar as categorias para premiar (ou mencionar) trabalhos na área dos sites, blogues e outro trabalho de divulgação das editoras dentro das novas tecnologias.
Saudações ao Ilídio Vasco, que lá tem uma capa também.
(Nota Corrupta: aos amáveis votantes na nossa capa prometemos uma caixinha de doces sortidos tradicionais de Viana e um CD com o best of das Cantadeiras do Rancho de Vila de Punhe).