Livros de Areia

terça-feira, 29 de julho de 2008

Gateways: convite



Eis o convite para a inauguração da exposição internacional de design de capas de livros Gateways (a sexta da série Idioms), comissariada por um dos melhores designers de livros a residir e a trabalhar em Portugal, Andrew Howard, e com o apoio da Fundação de Serralves. Dia 31 de Julho no Espaço Silo do Norteshopping, Matosinhos (clicar na imagem para aumentar).

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Prémio para Rhys Hughes em Espanha

Através deste post, ficámos a saber que a Associação Cultural Xatafi (com um site visualmente e deliciosamente retro) concedeu a Rhys Hughes o prémio Xatafi-Cyberdark 2008 de Melhor Conto em Língua Estrangeira para "Em busca do Livro de Areia" ("En pos del Libro de Arena", incluído em Nueva historia universal de la infamia, editado em Espanha pela Bibliópolis). Congratulamo-nos pelo facto, sobretudo pela extrema justiça e justeza na escolha deste conto, um dos mais geniais deste autor e que oblitera completamente qualquer memória que tenhamos do conto original de Borges.
Arturo Villarubia, um dos membros do juri, descreveu-o assim: "Un cuento que sirve perfectamente para delimitar las barreras entre fantasia y ciencia ficcion. El libro infinito creado por Borges pertenece al reino de la fantasia y Hughes lo mete a trompicones en el de la ciencia ficción: si dicho libro cayese en manos de un ingeniero, ¿qué es lo que se podría hacer lógicamente con este libro? El problema es que la lógica aplicada - que recuerda a Sladek- termina llevando a un sitio muy extraño. Divertido, eficaz y mucho más bruto de lo que parece a primera vista."
Podem lê-lo em português na nossa edição de Uma nova história universal da infâmia.

Das livrarias para a internet

O que Jorge Reis-Sá escreve neste post é o que, de facto, se deseja para a renovação do mercado português do livro, sobretudo no que toca à internet como veículo cada vez maior (e progressivamente preponderante) de promoção e venda directa (sem intermediários). A internet, contudo, continua por cá sujeita a mistificações (que a imprensa se apressa a difundir, como notícias "alarmantes" sobre o phishing – sem que se explique que phishing deriva de fishing, que significa pesca, e que só é pescado quem for atrás do isco no anzol... – ou, mais genericamente, sobre os "perigos" da liberdade na internet – como nesta inenarrável "reportagem" da SIC) que não ajudam a que se torne num veículo fiável e regular de compras de leitores (consumidores) aos editores (produtores).
Quantas pessoas de maior idade e com boas reformas, por exemplo, expostas a estas "notícias", não fogem às compras pela internet, preferindo esperar largas semanas que a "sua" livraria encomende um exemplar de um título e engrossando o exército dos "clientes importantes" das ditas livrarias? E não será o desconhecimento de qualquer estatística exacta que nos impedirá de concluir que, entre os que de facto compram pela internet, o uso do Paypal, por exemplo, é muitíssimo reduzido (até Câmaras Municipais – numa encomenda a título pessoal que nos foi feita há uns tempos – preferem os tradicionais cheques ou transferências bancárias aos meios de pagamento exclusivos da internet).

Oferta de Verão


Ao primeiro leitor ou leitora que nos provar que possui um exemplar de Chance de Jerzy Kosinski iremos oferecer um exemplar novo (ainda "no plástico", como podem ver) da edição limitada em DVD da Warner do filme Bem Vindo, Mr. Chance (Being There, 1979) de Hal Ashby, com o grande Peter Sellers no papel principal. O argumento deste filme, lembramos, foi da autoria do próprio Kosinski (adaptando a sua novela) e valeu-lhe um BAFTA e uma nomeação para os Globos de Ouro.
Os candidatos devem fazer uma de 3 coisas:
1) enviar-nos uma prova de compra (pode ser a digitalização de um recibo);
2) enviar-nos uma foto em que estejam acompanhados/as do mesmo exemplar da nossa edição num local que não seja uma livraria ou uma biblioteca... (foto que poderemos, com a devida autorização, reproduzir neste blogue), ou
3) responder à pergunta: que livro oferece Skrapinov a Chance e qual a dedicatória que lhe faz?
A promoção é válida também na compra de um livro no nosso site, desde que nos seja indicado por email, logo após a encomenda, que se deseja receber o filme.
As candidaturas devem ser enviadas para o nosso email geral.

terça-feira, 22 de julho de 2008

A Livro do Dia entendeu

Algum tempo já passado sobre a inocente discussão à volta dos booktrailers e da sua exibição em livraria, o livreiro Luís Filipe Cristóvão da Livro do Dia, em Torres Vedras, parece ter apreendido o cerne da questão. Instalado um monitor plasma na sua loja, eis que os editores que produzem este tipo de conteúdo podem enviá-lo para que ele decida o que exibir. A simbiose (nascida da necessidade mútua de atracção e sedução de um público às lojas) resolve o que os jovens lobos do marketing editorial fazem parecer uma solução alquímica. Ao cuidado, pois, desses e demais cépticos. A todas as livrarias que decidirem seguir o exemplo da Livro do Dia, enviaremos um DVD com os nossos filmes promocionais em formato MPEG.
Nota: aguardamos ainda uma foto vinda da livraria que ilustre este post.

domingo, 13 de julho de 2008

Cancelada

Por motivos pessoais, ficámos a saber que o autor Bruce Holland Rogers não poderá deslocar-se a Portugal. Fica, assim, sem efeito, infelizmente, a sessão de dia 16 na livraria Pó dos Livros, que temos vindo a promover. O autor viria a Portugal a convite da Universidade Nova de Lisboa, no contexto de um curso de escrita criativa. Pela parte que nos toca, lamentamos e desejamos que essa vinda possa dar-se o mais brevemente possível.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Prenúncios

"In 1970, Allen Lane sold Penguin to Pearson, one of the major British conglomerates, and the owners of properties ranging from the Financial Times to the Buenos Aires Water Company. When Lane was on his deathbed, Charles Clark and his fellow editors tried to persuade him to turn Penguin into a public trust, as David Astor had done with the British Sunday paper the Observer, thereby continuing its independent existence as a nonprofit. Had Lane agreed to this proposal, the future of British publishing might have been very different. Penguin would have continued to set high standards for paperback publishing and, by being able to buy books from other publishers, would have encouraged the rest of the trade to do the same. It was perhaps too much to expect of Lane, who had always been a dedicated businessman, and the sale went through. For a brief period, Pearson turned to a brilliant publisher and author, Peter Calvocoressi, to be their chief executive. Harper's was to do the same in the United States, promoting Mel Arnold, the inventor of their highbrow paperbacks, to president. Both men had come from highly distinguished small independent firms, Calvocoressi from Chatto & Windus, Arnold from Beacon Press. I watched their careers with fascination and sadly saw that neither survived the new kind of profit demands resulting from corporate takeovers."
(André Schiffrin, The business of books, p. 47, Verso, New York, 2000)

Da diversidade na imprensa

"If we look back into America's past, it's surprising to see how much healthier book publishing used to be. In the 1940's, for example, an average issue of the New York Times Book Review was sixty-four pages long, twice the length of the current Sunday section. Hundreds of publishing houses had books reviewed and advertised in those pages. The infrastructure of small publishing houses and independent bookstores and book clubs that existed in the 194o's was capable of reaching a very large audience effectively. The changes of recent decades have not been motivated by the need for higher efficiency or greater effectiveness. They have come about through a change of ownership and purpose."
(André Schiffrin, The business of books, p. 8, Verso, New York, 2000)

Para abrir o apetite

Na sessão do dia 16, na Pó dos Livros, José Mário Silva e Bruce Holland Rogers lerão um conto do seu "oponente", sendo que o conto "Efeito borboleta", já vertido entretanto para inglês por Luís Rodrigues, será lido por Bruce. Não sabemos que conto escolherá e lerá José Mário Silva, mas este que agora reproduzimos é um daqueles que ficam na memória e causam arrepios (sobretudo se lidos à luz da vela numa noite escura e ventosa). Eis "O Rei Duende" de Bruce Holland Rogers, um conto de Pequenos mistérios (tradução de Luís Rodrigues):

"Quando era pequeno, o meu pai contava-me histórias ao deitar, e a minha mãe perguntava-lhe de outra divisão:

— Não lhe estás a ler o poema, pois não?
— É o preferido dele! — respondia o meu pai com um piscar de olho.

Não sabia muito bem por que achava o meu pai que o poema do Rei Duende era o meu preferido. Todas as noites, depois de o ouvir, ficava muito tempo acordado, atento à escuridão. Acordava frequentemente numa choradeira durante a noite, e a minha mãe vinha para me abraçar. Ainda assim, todas as noites depois da última história, o meu pai abria o livro de poemas infantis e lia baixinho os versos sobre os espiões do Rei Duende:

A Lua é um olho para o Rei Duende
Ver como te estás a portar.
E se amuas, choras, berras ou gritas
As aranhas vão-lhe contar...

A maior parte do poema era dedicada aos meninos que se comportavam mal e ao que lhes acontecia quando o Rei Duende se apercebia disso. Um rapazinho desaparecia chaminé acima, apanhado por uma abominação negra. Uma menina era puxada para o fundo de um poço. E depois havia a Annie.

A pequena Annie partia os pratos
Ao jantar, era endiabrada.
Os pais mandaram-na para a cama.
Ai dela! Teve a sorte traçada.

O Rei Duende tem pés de areia
E nunca faz um som.
E quando a Mãe desfez a cama,
Eis o que ela encontrou:

Uma bola de cabelo encarquilhada,
Um dente, uma unha e um osso.
Mais nada restava da Annie
A não ser, talvez, um soluço.

O livro tinha uma figura do Rei Duende. Sentava-se, sorridente, no seu trono no bosque. A não ser pelo amarelo dos dentes e dos olhos, era feito de elementos da floresta—ramos, erva, areia, lama e folhas secas. Era difícil perceber onde acabava o bosque e começava o Rei Duende.

Certa noite, faltou a luz no nosso bairro mesmo antes da hora de ir dormir. Eu já estava de pijama, e o meu pai levava-me ao colo para o quarto. Não havia luz para me contar uma história, porém declamou de memória o poema:

A Lua é um olho para o Rei Duende
Ver como te estás a portar.
E se amuas, choras, berras ou gritas
As aranhas vão-lhe contar...

A lua tinha surgido à janela. Àquela luz mortiça, tudo o que podia ver eram as córneas nos olhos do meu pai e os dentes a brilhar.

E quando a Mãe desfez a cama,
Eis o que ela encontrou:

Enquanto declamava o poema, foi esboçando um sorriso cada vez mais largo. Os dentes adquiriram luz própria, e os olhos tornaram-se enormes. O resto do corpo desvaneceu-se até eu deixar de perceber onde acabava a escuridão e começava o meu pai.

Concluiu o poema, depois afagou-me o cabelo e disse o que sempre dizia quando me deixava a sós com as palavras do poema a pairar no ar negro.

— Porta-te bem — disse ele. — Porta-te muito, muito bem."

segunda-feira, 7 de julho de 2008

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© 2008 Livros de Areia Editores Lda. / Design: Pedro Marques

sábado, 5 de julho de 2008

Gateways


Esta capa, da nossa edição de Criaturas da noite de Lázaro Covadlo, acaba de ser seleccionada para a exposição "Gateways", que decorrerá a partir do final de Julho no Espaço Cultural Silo, do Norteshopping, Matosinhos (Sra. da Hora). Trata-se de uma exposição dedicada exclusivamente ao design de capas de livros, a 6.ª de uma série denominada Idiomas, organizada pela Fundação de Serralves e com curadoria do designer Andrew Howard. É uma honra, para mim, sem dúvida, e para a Livros de Areia. Mais sobre esta capa, em breve, aqui.
(PM)

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Leitura obrigatória


Este livro (além de, graficamente, ser um dos mais bem compostos e belos livros que me passaram pelas mãos nos últimos tempos) é de leitura positivamente incontornável, pelo tom sereno de um homem que esteve num dos mais altos cargos de uma gigantesca corporação editorial e que sabe que escrever sobre algo sem saber sobre o que se escreve é treta (como diria Harry Frankfurt, na linha de Wittgenstein). E, ao acaso, este parágrafo fulminante, ao cuidado dos ministros da Cultura que dizem que os autores são mais valiosos dos que as multinacionais, mas que se abstêm de dizer como ou que fazer para que o sejam de facto:

"A third possibility of change is that governments directly provide help to publishers as part of a broader program of assistance to cultural institutions. Many european governments now have substantial aid policies for filmmakers. There are also new cross-national associations such as the publicly subsidized French-German television station Arte, which broadcasts at a level higher than anything that can be seen in the English-speaking world or, indeed, in most of Europe. Why shouldn't book production warrant similar public help?"
(André Schiffrin, The business of books, pp. 150-151, Verso, New York, 2000)

Uma questão que está longe de ser esgotada com as falácias (neo-) liberais: o mercado do livro está na iminência de uma saturação insuportável, com a oferta ultrapassando em muito a procura, e com uma obsessão quase suicida no marketing direccionado ao best-seller, rejeitando cada vez mais a diversidade. E, já agora, na questão ridícula de fazer-se ou não um acordo ortográfico com o Brasil, não seria antes mais proveitoso e corajoso criar pontes comerciais para o livro português (i.e., produzido e publicado em Portugal), que contornassem as onerosas taxas (bancárias, de transporte, etc) que impedem que brasileiros comprem livros produzidos cá (incluindo os do "valioso" Fernando Pessoa) sem um enorme esforço?
(PM)

Antes que ele se vá embora


E, na senda das ofertas que temos no nosso site, lembramos que continua online a nossa edição de "Ser Nada – George W. Bush: um Simulacro Presidencial" de Carol V. Hamilton, um ensaio que publicámos há um ano (aquando do lançamento de Chance de Jerzy Kosinski) e que podem descarregar e ler de forma totalmente gratuita (por acordo com os seus editores originais, Arthur e Marilouise Kroker do CTheory). É um texto provocador e muito pertinente, que vê na novela de Kosinski uma (certamente involuntária) profecia sobre a forma de viver e fazer política nos EUA que teve a sua epítome nos 8 (oito!) anos de mandato de George W. Bush. Antes que este se vá embora, eis um texto a ler com atenção, como complemento a Chance.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

4 contos inéditos de Bruce Holland Rogers


Lembramos que ainda temos no nosso site, e absolutamente grátis, 4 contos inéditos de Bruce Holland Rogers, que podem ser descarregados em duas versões: para ler no monitor ou para imprimir e montar, se houver por aí leitores dados ao bricolage e que querem ter uma pequena edição montada por eles.