Livros de Areia

domingo, 18 de junho de 2006

Editar futebol: jogada de risco


Acabámos de colocar no mercado um livrinho de futebol. Vinda de uma editora que se quer "séria" esta frase pode ser, quase paradoxalmente - tendo em conta o suposto peso atávico do jogo na nossa psique e vida social -, um ante-passo para o suicídio. Ou pelo menos para uma lesão séria no menisco mesmo perto da linha final.

Para um país que diz cultivar o futebol, a oferta de bons livros sobre o mesmo é ridiculamente escassa. A começar por esta nossa edição do livro de Eduardo Galeano, que resgatámos do olvido de mais de uma década. Pusemo-nos o desafio de editar algo sobre futebol que não manchasse este nosso incipiente catálogo, e, na busca, encontrámos títulos interessantíssimos, alguns best-sellers, TODOS eles sem edição lusa. Football: the brazilian way of life de Alex Bellos? Dynamo de Andy Dougan? Ajax ou Footbal against the enemy de Simon Kuper? Ou esse genial (e já um livro de culto) Brilliant Orange de David Winner (pessoalmente, um dos ensaios mais fascinantes que li este ano, ao mesmo tempo rigoroso e audacioso, uma homenagem à geração de futebol holandês dos anos 70 que é também um ensaio de história das mentalidades e uma tese sobre estética: o conceito de jogo que a "Laranja Mecânica" de Cruyff trabalhou mais não sendo, segundo Winner, do que uma extensão da particular noção de espaço que sempre obcecou os Holandeses)? Para já não falar desse inesgotável manancial sul-americano de grandes cronistas (leiam o textinho de Osvaldo Soriano no Futebol: sol e sombra do Galeano e percebam...). E, já agora, possíveis reedições de livros que morreram nas prateleiras há muito: alguém se lembra - ou leu - Maracanã, adeus de Edilberto Coutinho?

Afinal, que cultura de futebol temos? Uma cultura umbiguista e paroquiana, que nos leva sempre às memórias dos lagartos, leões, águias, dragões e magriços, e que é incapaz de aceitar nas prateleiras livros sobre a selecção brasileira de 1970, uma autobiografia de um dos húngaros voadores de 1954 ou um relato de como os modestos uruguaios dos anos 1920 mudaram a face do futebol moderno. Porquê tantos livros sobre Mourinho, quando há uma biografia de Rinus Michels por aí em Nederlandês? Não seria melhor conhecer o Mestre antes de aprender com mais um dos seus inúmeros discípulos?

Na hora da escolha de um livro de futebol, o mercado português obriga o editor a pensar como os defesas que já têm um cartão amarelo: devia ir àquela bola, mas valerá o risco? Afinal, é apenas futebol...

Pedro Marques - editor, Livros de Areia

6 Comments:

Blogger Leonor said...

Neerlandês, certo?

12:23 da tarde  
Blogger LdA said...

O mais correcto, creio, seria nederlands, não lhe parece, cara leitora? Alguém desempata este jogo?

1:57 da tarde  
Blogger Leonor said...

Não. Em Português a designação da língua é neerlandês. A menos que nestas coisas do futebolês as línguas tenham readquirido outra designação ;-)

5:18 da tarde  
Blogger LdA said...

Concedido, sem discussões! Game set and match! Ou, neste caso, golo seu! : Se eu ao menos soubesse falar nederlans ainda podia, como em 1974 o Cruyff (ou, mais correcto, Cruijff) alegar "vitória moral", mas a confusão que duas vogais juntas numa palavra me causa não é suficiente para recusar a sua razão.
PM

8:44 da tarde  
Blogger Leonor said...

Pior do que as vogais juntas é mesmo a pronúncia do neerlandês ou nederlands... ;-)

10:59 da tarde  
Blogger Matías Manna said...

Hola!. Soy de Argentina. Estoy muy interesado en poder leer el libro de Winner "Brilliant Orange". Q más puedes decir de él. Aquí no lo consigo y me encantaría poder encontrarlo

Saludos!

8:49 da tarde  

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