Barney Rosset: for fun and profit
Não é muito (para não dizer nada) vulgar que as câmaras se virem para um editor e que alguém decida contar a sua história. Mas a história de Barney Rosset é mais do que isso: é uma lenda. Por um destes acasos, descubro que em 2007 foi feito um documentário sobre o director da Grove Press, a mais arrojada casa de edição nova-iorquina, que publicava com o mais requintado bom gosto o que mais ninguém se atrevia a publicar nos EUA: Beckett, Mishima, Ionesco, as bandas desenhadas para adultos vindas de França, a revista Evergreen (em cuja capa apareceu a primeira imagem de Che Guevara publicada na imprensa americana) e o Trópico de Cancer de Henry Miller, que lhe valeu problemas com a justiça americana. O filme chama-se Obscene: a Portrait of Barney Rosset, e dele há um site promocional, onde podemos ver uma galeria fotográfica com os entrevistados. Num texto autobiográfico, Rosset escreve sobre o que chegou a ser a sua Grove (hoje com a designação de Grove Atlantic):
"At its peak Grove was a self-contained mini-conglomerate with a seven story building on Mercer Street, a publishing operation for hardcovers, quality and mass market paperbacks, an education department, a book club, a movie division, a theatre, a high-powered sales department, its own giant computer, and last but not least, a 1930s bar elegantly appointed in the Warner Brothers Art Deco look. I had always wanted to own a bar. Our beautiful Black Circle Bar on 11th Street taught me the hard way that it's cheaper to drink in somebody else's bar."
Na imagem que encima este post está a capa do Saturday Evening Post de 2 de Janeiro de 1969. A imprensa conservadora via este homem a sair do esgoto para vender os seus livros for fun and profit, mas uma simples visão das capas e dos títulos dá-nos uma ideia do fabuloso catálogo da Grove já naqueles anos, e da sua famosíssima qualidade gráfica. Rosset saía a rir do buraco, e, apesar da sua quase falência financeira e de mais de 50 anos no fio da navalha da vida cultural, é difícil acreditar que hoje, com mais de 80 anos, não o continua a fazer ainda.
(PM)
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