Voragem
Há dias contactei um agente norte-americano para saber das condições de direitos de um determinado título. Quando lhe indiquei que poderia enviar para nós a reading copy, pois somos nós próprios que lemos os livros que nos interessam, a resposta veio com estupefacção: "de certeza que não têm um reading scout para onde enviar isto?" Leia-se: vocês lêem os livros que editam?!
Os factos galopantes dos últimos tempos na edição portuguesa acabam de fazer entrar este pequeno mundo de produção livreira no absurdo universo da edição ultra-"profissionalizada" em que o editor não tem tempo para ler os livros que procura editar, nem se supõe que o faça. Um mercado em que as estatísticas existentes continuam a mostrar uma média anual miserável de livros comprados (lidos?) por pessoa (pouco mais do que 1). Um mercado que nunca se profissionalizou a sério, e tem vivido com base nas prestações de serviços e nos estágios, dos do IEFP ou dos completamente irremunerados (quando frequentei uma pós-graduação em edição, a melhor proposta de estágio que por lá caiu era deste tipo e vinha de uma das actuais excelentíssimas chancelas da Leya). Este mesmo mercado caiu nas mãos de uma holding, que rapidamente se apossará da galinha de ovos de ouro em todo este processo: as livrarias. Está nestas, agora mais do que nunca, a responsabilidade de provar que Portugal consegue manter uma pluralidade na oferta editorial, e de que essa pluralidade é o reflexo de um estádio civilizacional do nosso país e não o resultado de um brainstorm de marketing. Mas não se lhes augura muito mais opções do que às editoras que, ainda há um par de anos, faziam da independência a sua bandeira.
(PM)
Os factos galopantes dos últimos tempos na edição portuguesa acabam de fazer entrar este pequeno mundo de produção livreira no absurdo universo da edição ultra-"profissionalizada" em que o editor não tem tempo para ler os livros que procura editar, nem se supõe que o faça. Um mercado em que as estatísticas existentes continuam a mostrar uma média anual miserável de livros comprados (lidos?) por pessoa (pouco mais do que 1). Um mercado que nunca se profissionalizou a sério, e tem vivido com base nas prestações de serviços e nos estágios, dos do IEFP ou dos completamente irremunerados (quando frequentei uma pós-graduação em edição, a melhor proposta de estágio que por lá caiu era deste tipo e vinha de uma das actuais excelentíssimas chancelas da Leya). Este mesmo mercado caiu nas mãos de uma holding, que rapidamente se apossará da galinha de ovos de ouro em todo este processo: as livrarias. Está nestas, agora mais do que nunca, a responsabilidade de provar que Portugal consegue manter uma pluralidade na oferta editorial, e de que essa pluralidade é o reflexo de um estádio civilizacional do nosso país e não o resultado de um brainstorm de marketing. Mas não se lhes augura muito mais opções do que às editoras que, ainda há um par de anos, faziam da independência a sua bandeira.
(PM)
1 Comments:
Já se apossou. Qual é o poder negocional de uma livraria versus um distribuidor que detém uma quota gigantesca (ah, e que acabou ainda à pouco tempo de engolir mais um conjunto de editoras)? Nem precisa de as adquirir e ter o trabalho de as gerir.
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