Livros de Areia

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Dinis Machado



Lembro-me de, em 1978 ou 79, numa ida a Vila Nova de Cerveira, o meu pai levar um exemplar (já na sua 7.ª ou 8.ª edição, e já com uma fita vermelha a assinalar a proeza) de presente de aniversário à minha prima com o intuito de lhe revelar esse livro "importante", cujo título me intrigava pela aparente falta de um i em Molero... Li-o quase 20 anos mais tarde e percebi a razão daquela urgência: continua a ser um texto seminal, contagiante e, talvez, o mais genuíno livro de culto português da segunda metade do século XX, até pela quase escandalosa ausência de continuação no currículo de romances do seu autor. Num tempo em que um jovem "autor" aspira à alta rotação de um primeiro romance "histórico" de 400 páginas e, queiram Deus e as eminências do mercado, à repetição da lucrativa fórmula de 2 em 2 anos, é com muda admiração que este livro deve ser olhado, bem como o exemplo de modéstia e economia do seu autor, cujo génio pode ter estado precisamente em saber que em torno de um pico gigantesco se cultivam espaços mais rasos e serenos para contemplação e repouso.
(PM)

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