Livros de Areia

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Das livrarias III

A questão das máquinas de venda de livros no Origem das Espécies é importante e toca um facto incontornável da moda dos livros em Portugal: a obsessão por livros grandes (e o formato arrasta os acabamentos posh - as badanas enormes e vazias, os relevos, o verniz UV, os cortantes barrocos, o ubíquo papel Munken, etc), que se liga à suposta queda de popularidade dos livros de bolso (baratos, colados, sem badanas, etc). Estas máquinas só podem vingar num país com gente sem peneiras de comprar um livro que não tenha na contra-capa, a sangrar, a foto da carinha laroca de um pivot ou de uma menina da Linha e que não exija, para a sua leitura, pose de estado, duas mãos e um colo ou uma mesa de café. Ou seja, a julgar pelo que a responsável pelos livros da FNAC disse aqui, um país que não seja Portugal.
Há uns meses, quando lançámos Em busca do Livro de Areia e, depois, o ensaio Da treta, a pergunta que nos faziam, de forma delicada mas denotando alguma impaciência era: "vocês só vão editar livros pequenos?" Caros senhores fabricantes das maquinetas: depois não digam que não vos avisaram.

2 Comments:

Blogger JV Nande said...

E pergunto: não será isto sintoma de uma doença num país que, com muita certeza, compra muito mais livros do que aqueles que lê? Se o livro é mais uma peça de decoração para pôr na prateleira e que, no máximo, pode limitar-se a esperar que o seu dono seja assaltado pela paciência de o ler - se assim for, é provável que as máquinas não tenham grande sucesso, não. Teremos então os próprios editores a produzirem para a decoração, e não para a leitura. É pena.

11:37 da tarde  
Blogger Leonor said...

Pois é, mas o que vende hoje em dia e o que parece convencer muitas editoras, e saberão isso bem melhor do que eu, são as ditas carinhas larocas, um nome sonante, sempre um próprio e dois apelidos, e esse olhar meio perdido no mundo, enfim, algures nesse universo incompreendido e inatingível da condição de escritor. Ultimamente dei por mim a excluir não os autores, mas liminarmente as editoras que os publicam, logo eles. Pode parecer um raciocínio primário mas recuso-me a comprar livros dos amigos dos amigos ou onde os locais que frequentam são sempre os mesmos e que em nada contribuem para essa arte maior que é a literatura.

12:05 da manhã  

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