14:30, na "periferia da periferia"*
No seguimento de um convite informal, quase familiar, demos por nós bem no coração do concelho de Caminha, na escola primária de Seixas. Numa sala relativamente pequena, estavam todos os alunos dessa escola: pouco mais de uma trintena. A totalidade dos alunos. O pretexto foi uma coisa bizarra: dois editores da "periferia" a falar disso de "editar livros" a crianças da "periferia da periferia". De livros, tal como é hábito por essas escolas, quase nem sombra. As condições são as possíveis, e ao todo a escola dispõe de 4 computadores para as actividades ligadas à aprendizagem das novas tecnologias.
Não deixa de ser um exercício refrescante de completa humildade explicar coisas pomposas a miúdos para quem um pacote de leite chocolatado e um pão com manteiga são a coisa mais importante da tarde. Serão estes os leitores de amanhã? Os editores? Já se distinguem alguns pelo brilho nos olhos, pela vivacidade. Mas que lhes vamos deixar, afinal?
Ao explicar a regra dos 10% de direitos, usando uma analogia com a existência de dez automóveis dos quais um teria de ser dado ao autor, e outros quatro aos livreiros, ficando nós com cinco, um dos miúdos fez notar que, tendo cinco carros, o melhor era vendê-los. O dinheiro é aqui muito importante. Estes miúdos vivem numa terra que não tem trabalho para os pais, nem para os irmãos mais velhos (a emigração é, de novo, corrente no Norte profundo), são crianças a quem não foi permitido começar com o pé direito. Alguns deles são, e a palavra é usada vulgarmente em conversa, "abandonados". Livros são um verdadeiro luxo, um luxo incompreensível que "loucos" que trabalham em bibliotecas ambulantes ou teimosas professoras continuam a tentar fazer quotidiano.
"E se os livros não venderem?", pergunta-nos um miúdo com menos de 10 anos. Na "periferia da periferia", o fracasso, lentamente digerido, é algo de quotidiano também: tudo pode correr mal, porque já tudo correu mal antes. Mas os sorrisos que, por alguma razão, nos lançaram são a prova da maior generosidade: um sorriso em troca do pouco que lhes levámos é um grande negócio! Obrigado!
(PM)
* com uma vénia a Mário Santos, do extinto Mil Folhas. Por onde anda?
Não deixa de ser um exercício refrescante de completa humildade explicar coisas pomposas a miúdos para quem um pacote de leite chocolatado e um pão com manteiga são a coisa mais importante da tarde. Serão estes os leitores de amanhã? Os editores? Já se distinguem alguns pelo brilho nos olhos, pela vivacidade. Mas que lhes vamos deixar, afinal?
Ao explicar a regra dos 10% de direitos, usando uma analogia com a existência de dez automóveis dos quais um teria de ser dado ao autor, e outros quatro aos livreiros, ficando nós com cinco, um dos miúdos fez notar que, tendo cinco carros, o melhor era vendê-los. O dinheiro é aqui muito importante. Estes miúdos vivem numa terra que não tem trabalho para os pais, nem para os irmãos mais velhos (a emigração é, de novo, corrente no Norte profundo), são crianças a quem não foi permitido começar com o pé direito. Alguns deles são, e a palavra é usada vulgarmente em conversa, "abandonados". Livros são um verdadeiro luxo, um luxo incompreensível que "loucos" que trabalham em bibliotecas ambulantes ou teimosas professoras continuam a tentar fazer quotidiano.
"E se os livros não venderem?", pergunta-nos um miúdo com menos de 10 anos. Na "periferia da periferia", o fracasso, lentamente digerido, é algo de quotidiano também: tudo pode correr mal, porque já tudo correu mal antes. Mas os sorrisos que, por alguma razão, nos lançaram são a prova da maior generosidade: um sorriso em troca do pouco que lhes levámos é um grande negócio! Obrigado!
(PM)
* com uma vénia a Mário Santos, do extinto Mil Folhas. Por onde anda?
1 Comments:
Os portugueses estão a ler cada vez mais e constituem actualmente um universo de mais de três milhões de pessoas. Pelo menos a acreditar na Marktest, que realizou um estudo comparativo entre 1996 e 2006 e acabou de divulgar os seus resultados.
De acordo com os dados, durante a última década registou-se um aumento de 15 por cento de leitores (de 23,5 por cento em 1996 para 37,1 por cento no ano passado), sendo que destes a maioria são mulheres.
Do total de leitores, 40,7 por cento são do sexo feminino contra 33,1 por cento do sexo masculino. Os jovens são também os que mais lêem (54, 6 por cento têm entre 15 e 17 anos) e nas zonas da Grande Lisboa e Porto lê-se mais do que no Interior, com taxas na ordem dos 49,2 e 50,2 por cento, respectivamente. Onde se lê menos é no Interior Norte do País.
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