Livros de Areia

terça-feira, 10 de julho de 2007

No princípio, era...



"No princípio, era o caos. Depois, no ano da Graça de 2007, 3 ou 4 editoras descobriram (som de trombetas)... o livro de bolso! Sim, um livro de pequeno formato, de preço acessível e de conteúdo genérico (os clássicos e assim)!" "Uau, avozinho! Isso é fantástico! E depois?" "Depois..." (scratch de um disco a ser arrancado do prato)
Não. Com o devido respeito, as honorabilíssimas editoras que ora lançam colecções de bolso não descobriram nada de novo, apesar do buzz nos media e nas empresas que se dedicam à comercialização de livros, que devem ter do seu público-alvo a imagem de um adolescente amnésico. Desde a revolução iniciada por Allen Lane na Penguin em 1935, que se editam paperbacks baratos um pouco por todo o Mundo, e Portugal não foi excepção. TODA a cultura livresca das sucessivas gerações de portugueses se fez à volta deste tipo de edições. Permito-me citar aqui um texto de João Bicker, da Fenda, acerca deste recente fenómeno:

"A edição em livro de bolso tem uma tradição em Portugal de que esta iniciativa é devedora, com exemplos tão notáveis como a colecção 'Três Abelhas' iniciada nos anos quarenta por José Cardoso Pires e Victor Palla, a coleccção Unibolso, com um catálogo notável e que, em tempos bem mais difíceis para a cultura do que o nosso, fez chegar a grande literatura nacional e internacional a uma faixa muito alargada da população. Como fez a colecção Miniatura, de Livros do Brasil, que editou 400 títulos. Como o fizeram as colecções Livros RTP, Livros de Bolso Europa-América (no seu início) e as colecções de bolso dos Estúdios Cor, e da Portugália, e da Ulisseia e ainda a Biblioteca Arcádia, para referir apenas algumas. Assim, a iniciativa vale porque se inscreve nessa tradição e não pela sua singularidade.
Isso é que deve ser o seu motivo de orgulho."


Mais uma vez, quando a edição e a memória colectiva andam desligadas...
(PM)

3 Comments:

Blogger Luis F Silva said...

Sendo que a colecção booket nada mais faz do que importar o modelo e a marca de uma das mais famosas e bem sucedidas colecções de bolso espanholas - e não admira que seja a Planeta... perdão, a D. Quixote o motor de impulsão do mercado nacional neste sentido.

Aparentemente a entrada dos espanhóis na nossa produção literária começa a beneficiar o leitor com o acesso a modelos alternativos de pricing e formato (se este consegue subsistir em conjunto com uma edição inicial em formato _prime_, é algo que duvido, pois não esqueçamos que estamos num país que aguarda a próxima feira do livro ou a entrada em falência da editora/colecção para poder ter um livro mais barato...). E ao beneficiar o leitor poderá, indirectamente, beneficiar o autor, por permitir-lhe a disseminação do nome e o aumento dos royalties.

No fim, o que precisavamos mesmo era de massa crítica de leitores. Portanto, de três, uma: ou a malta que existe lê mais livros, ou mantendo a percentagem de malta que lê passa a haver mais malta (toca a fazer bebés), ou passamos todos a falar uma outra língua...

7:39 da tarde  
Blogger Luís R. said...

My vote is on the third alternative.

11:10 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu gosto mais de livros grandes! Capa dura, pesados!
Um abraço!

(gosto também da segunda alternativa, acho que é a mais viável, mas se calhar para isso vai ser preciso optar pela terceira hipótese, com uma relativa mistura da primeira nos intervalos...)

7:13 da tarde  

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