Livros de Areia

segunda-feira, 5 de março de 2007

Hands on



De novo o livro de Gekoski, para anotar que o capítulo dedicado ao livrinho Poems de T.S.Elliot (1919) é um irresistível pretexto para o autor contar a história, não da sua escrita, mas da sua impressão, às mãos da depressiva Virginia Woolf e do seu nervoso marido Leonard. A Hogarth Press vista como uma espécie de terapia feita de tinta preta, batas castanhas, tipos metálicos, componedores e muito, muito, muito tempo para o inevitável trial and error. Recorde conseguido: uma hora e quinze minutos para compor uma página. Sensatamente, os Woolf declinaram a sugestão de imprimirem um certo Ulysses de um então ainda pouco conhecido Joyce, ou então, pelas contas de Gekoski, teriam passado os restantes 50 anos das suas vidas a fazê-lo. A descrição táctil do livro de Elliot - edição raríssima -, e a emoção com que é feita, é um dos pormenores mais brilhantes deste Tolkien's Gown.



Ainda assim, alguns livros admiráveis sairam dessa improvável dupla de tipógrafos, na senda do que já William Morris fizera com a Kelmscott Press: apropriar-se dos "meios de produção" (Marx estava na moda para os intelectuais ingleses), deixar-se de tretas e pôr mãos à obra. Veja-se aqui um pequeno catálogo da HP, que inclui os primeiros livros de produção "manual" e as posteriores edições comerciais. A edição vista, ao mesmo tempo, como uma extensão do conceito wagneriano de "obra de arte total" e como um ofício.