Livros de Areia

terça-feira, 29 de maio de 2007

Entretanto, em Almada...

O sempre atento Nuno Santos passou-nos o link para a notícia, e aqui o passamos também: Joaquim Benite será distinguido pelo Governo francês, no próximo dia 22 de Junho, com o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras. Quem tem isso a ver connosco? Joaquim Benite é o director da Companhia de Teatro de Almada, que apostou em nós para a produção e edição da sua colecção de textos dramáticos, os mesmos textos que a CTA encena e apresenta regularmente no já icónico "Teatro Azul" de Almada. Aproveitamos para anunciar que os próximos títulos serão de peso: uma pequena peça escrita por um grande nome, Erland Josephson (que no cinema tratou por tu Bergman e Tarkovski), com tradução de Solveig Nordlund (que também encena) e Joana Frazão, e o clássico do teatro irlandês A Charrua e as Estrelas de Sean O'Casey, com tradução de Helena Barbas.
© 2007 Livros de Areia Editores Lda. / Design: Pedro Marques

Uma benção

A recente razia nos suplementos literários e/ou culturais pode afinal, e por ínvios caminhos, revelar-se uma benção financeira para pequenas editoras que navegam por entre os icebergues do IRC, do IVA e dessa invenção lusa, o temido (e nunca explicado) Pagamento por Conta. Afinal de contas (e destas se trata), o que parecia à primeira vista uma decisão editorial escandalosa - reduzir o espaço sobre livros precisamente na altura em que mais dinheiro se move no negócio e quando os tubarões dos media mostram o seu interesse - acaba por ser uma generosa, ainda que modesta, benção financeira.
Poupando-nos à compra do DN à Sexta (via extinção da 6a) e do Público ao Sábado (via extinção do Mil Folhas) e à Sexta (via emagrecimento da área dos Livros no Ipsilon), e estando o Expresso a reduzir também o seu quinhão ao nível da fatia de fiambre de um somítico merceeiro de bairro, os iluminados gestores da imprensa estão, na realidade, a contribuir para o equilíbrio financeiro das pequenas editoras.
Os 340 Euros que não gastaremos este ano em jornais portugueses valem bem o esforço das subreptícias espreitadelas que permitem, em segundos, o cabal escrutínio dos conteúdos de tais títulos, operação essa ajudada grandemente pela magreza do dito conteúdo. 340 Euros é pouco, dirá o caro leitor. Pois bem, compram-se direitos de publicação por muito menos do que isso.
A bem das finanças dos honestos jornaleiros, aconselhamos os cultores da arte do pick-journal à compra de pelo menos um título retirado da estante: entre uma Que Leer?, uma Lire, um El Pais com o seu Babelia, um Guardian, a escolha abunda.
(PM)

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Só não vê quem não quer ver

Do nosso forno gráfico: para a capa de Chance de Jerzy Kosinski. E, sim... é mesmo ele.
© 2007 Livros de Areia Editores Lda. / Design: Pedro Marques

Vista do forno

Mesa de trabalho de Paulo Barros, ou vista do forno em plena cozedura.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Nas feiras

Estaremos, pela segunda vez, representados nas Feiras do Livro de Lisboa e do Porto. Em Lisboa, estaremos no Pavilhão 22, da Aillaud & Lellos, e seremos representados pela Letras em Marcha.
No Porto, estaremos no Pavilhão do Clube Literário do Porto, representados pela 90º-Noventa Graus.
O grosso do nosso catálogo so far estará à venda, com os habituais descontos de feira.

domingo, 13 de maio de 2007

De regresso

Depois de uma estranha estadia numa ilha perdida, servindo como criado de um maléfico Dr. Pynchon, ei-lo regressado ao activo. Ainda bem.
E como regressos sabem melhor no plural, eis que podemos ler de novo, em extensão, mais achegas à invenção quotidiana da memória.

sábado, 12 de maio de 2007

Pronto a ler

Postalapocalíptica, um conto inédito de Rhys Hughes, vai ser editado por nós em t-shirt. Para ler antes de vestir ou para dar a ler a outros. Em Junho, e em versão Branca ou Areia.
© 2007 Livros de Areia Editores Lda. / Design: Pedro Marques

quinta-feira, 10 de maio de 2007

No forno: A Sereia de Curitiba II


Do forno gráfico de Paulo Barros, chegam-nos estes dois desenhos para A Sereia de Curitiba de Rhys Hughes. Mais um jovem artista plástico que se junta ao nosso projecto, pleno de inventividade e uma dose de loucura que encaixa na perfeição com os textos do Invencível Galês.
(© 2007 Paulo Barros. Desenhos reproduzidos com a autorização do autor)


domingo, 6 de maio de 2007

No forno: A Sereia de Curitiba

"Esmeraldas, sedas, ídolos de ouro – estão a caminho! – rubis, prata, açafrão, vinhos raros de velhas vinhas – aproximam-se! – papagaios, turquesas, âmbar, pérolas, baunilha – prestes a chegar!
Estas são as cargas que queremos na nossa ilha.
Marfim, jade, safiras, vestidos de cetim, chinelas orientais, papagaios, pimentas, jaspes, chocolate, couves…
Couves?! Quem pediu isso???
Falem, antes que perca a cabeça. Ah, foste tu, meu querido leitor! Mas que te deu para ordenares o envio de couves para o nosso fragmento de paraíso? Estrangeiros dizem que parte do céu quebrou-se e aterrou no oceano, e em dias como este, com o sol quente, a brisa fresca, a música da espuma nos meus ouvidos e raparigas bonitas a passearem na areia quente a abanarem as ancas, posso acreditar nisso. Mas tu não vives aqui. Não tens o direito de apresentar couves.
Por falar em apresentações, não podemos conhecer-nos formalmente um ao outro fora de portas, num sítio onde os únicos nomes que são trocados são os de amantes. Entra na minha casa. Fecha a porta de cana atrás de ti e senta-te. Odeio couves. Não existe nada de romântico nelas.
Enquanto falas, vou afinar a minha guitarra.

É verdade que me insinuei nesta história e enviei-vos couves. É o que merecem, sua cambada preguiçosa de hedonistas. Aqui estou eu, preso em (inserir nome de cidade) com toda a sujidade e tráfico, enquanto vocês dançam pelas noites fora a fazerem todo o tipo de coisas sensuais, como espremerem pêssegos nos corpos uns dos outros. Não é justo e não tenciono aturar isso. Mal vi o título desta história, adivinhei o que estava para vir e decidi fazer qualquer coisa sobre isso antes que começasse. As couves são ficcionais, por isso, não tenho que pagar por elas. Mas o que irão vocês fazer com elas, quando forem descarregadas por esse galeão esplêndido? Vão deixá-las apodrecer numa pilha no cais, aposto. Farão o vosso melhor para ignorá-las, mas não irão desaparecer.
E chega deste disparate de “querido leitor”. Não há nada de querido sobre mim. Tenciono ser reles a partir de agora, o mais reles possível que conseguir ser, e isso é uma outra forma como tenciono arruinar o vosso paraíso vistoso. Arrebatamento terno num clima aromático, fazer amor nas ondas e comer cocos? Pah! Cheguei à idade de (escrever em lápis para que possa ser alterado mais tarde) e nunca fiz isso ainda, logo, não vejo razão porque tenho que me sentar aqui, submisso, e ler sobre isto, sem me infiltrar. Nem pensar! Você esperava realmente aparecer e não fazer os seus leitores invejosos? É assim tão estúpido? Porque se não é, então queria deliberadamente magoar-nos, e nunca nenhum simplório irá ser eleito como Chefe da Ilha do Beijo Picante.
O que significa que tem mau carácter, a obter prazer das frustrações dos outros. Excita-o saber que somos miseráveis? Fá-lo sentir-se especial? E não pense que vou perder o meu fôlego para que possa voltar à sua história. Quando me sentir cansado ou precisar de uma pausa, copio outro documento para aqui, tenho muitos por onde escolher, tudo serve para o manter fora da página. Não sou exigente. Permiti que o início fosse contado porque quero que os leitores que vierem depois de mim saibam que você existe e que estou a ter a minha vingança. Se eu tivesse usurpado a história desde a primeira palavra, não estaria ali de todo, e as pessoas assumiriam que esta história pertencia-me por direito e o título seria incongruente, tendo que ser alterado. É melhor assim. Agora toda a gente sabe que estou a falar consigo."
("Cultos de carga na Ilha do Beijo Picante", in A Sereia de Curitiba de Rhys Hughes, tradução de Safaa Dib)

No forno: Chance

"Chance foi apresentado a alguns convidados. Apertou as suas mãos, enfrentou os olhares de homens e mulheres, e, mal conseguindo fixar o deles, disse o seu nome. Um homem baixo e calvo conseguiu encurralá-lo junto a uma imponente peça de mobiliário, cheia de ângulos aguçados.
— Chamo-me Ronald Stiegler, da editora Eidolon. Encantado por conhecê-lo, senhor Jardiner — disse, estendendo a mão. — Vimos a sua entrevista na TV com grande interesse. E acabo de ouvir, no rádio do meu carro, a caminho daqui, que o Embaixador Soviético mencionou o seu nome em Filadélfia...
— No seu rádio? Não tem televisão no carro? — perguntou Chance.
Stiegler fingiu achar graça.
— Já mal ouço o rádio. Com este trânsito louco, toda a atenção é pouca. — Interceptou um criado e pediu um vodka martini com gelo e uma rodela de laranja.
— Estive a pensar, tal como alguns dos meus colegas — disse, encostando-se à parede — se não estaria interessado em escrever um livro para nós. Algo sobre o que mais lhe interessa. Obviamente, o ponto de vista da Casa Branca é diferente do dos intelectuais e do dos trabalhadores comuns. O que me diz a isso? — esvaziou o copo em vários goles, e, quando um criado passou por perto com uma nova bandeja de bebidas, tirou outra. — Uma para si? — disse, sorrindo maliciosamente para Chance.
— Não, obrigado, não bebo.
— Senhor Jardiner, o que penso é que seria justo, e de grande vantagem para o país, promover a sua filosofia de uma forma mais alargada. A Eidolon ficaria muito satisfeita por poder servi-lo. Creio poder prometer-lhe, já aqui, um pagamento adiantado na ordem dos seis dígitos, contra posterior pagamento de direitos, e cláusulas muito agradáveis quando a direitos por reimpressão. O contrato poderia ser lavrado e assinado num ou dois dias, e o senhor poderia entregar-nos o livro, digamos, num ou dois anos.
— Eu não consigo escrever — disse Chance.
Stiegler sorriu depreciativamente.
— Claro, e quem consegue, hoje em dia? Não há problema. Podemos pôr à sua disposição os nossos melhores redactores e editores de conteúdo. Eu nem sequer consigo escrever um simples postal para os meus filhos! E depois?
— Nem consigo ler — continuou Chance.
— É claro que não! — exclamou Stiegler. — E quem é que arranja tempo para ler? Acabamos por dar apenas uma vista de olhos nas coisas, falar, ouvir, observar... Senhor Jardiner, confesso que, como editor, deveria ser o último a dizer-lhe isto, mas... hoje em dia, a edição não é propriamente um jardim florido.
— E que tipo de jardim é? — perguntou Chance com interesse.
— Bem, o que quer que tenha sido no passado, já não é. É claro, estamos ainda a crescer, a expandir-nos. Mas publicam-se demasiados livros. E com a recessão, a estagnação económica, o desemprego... Bem, como saberá, os livros já não vendem como antes. Mas, como costumo dizer, para uma árvore do seu porte, há ainda um bom pedaço de terra reservado. Sem dúvida: consigo ver Chauncey Jardiner a florir sob a chancela da Eidolon! Deixe-me enviar-lhe uma notazinha com a indicação das nossas ideias... e da quantia proposta. "
(Chance de Jerky Kosinski, tradução de Pedro Piedade)

Para que não haja confusões quanto ao tempo e ao espaço: a cena passa-se numa festa privada em Nova Iorque, no início dos anos 1970, e foi escrita por essa altura...

Palavras sábias


"In the early days of publishing, designers were both publishers and producers. They would produce their own things, projects that they believed in either commercially or culturally. The idea of design detached from the production of content is a relatively recent phenomenon. In the big historical sweep, it is tied to Fordism and Taylorism and the whole idea of specialization and the abstraction of the work process." (Bruce Mau, Life Style, Phaidon, p. 334)
Um dos melhores livros de designers da última década, finalmente ace$sível por um destes felizes acasos que as Feiras dos Livros proporcionam... Um manancial de informações sólidas sobre como desenhar e produzir livros com excelente tipografia e design, na fronteira entre a norma rígida e abstracta europeia e o individualismo americano. Tudo de uma forma barata e rápida, sem cortantes, sem vernizes, sem relevos, sem fitinhas coladas na capa, sem recorrer a ilustradores ou fotógrafos "com nome"...
O designer como editor e produtor dos conteúdos publicados, ou seja, como um dos seus autores (conceito ainda marcado por uma certa aura Romântica) . Nada de novo, afinal: Quentin Fiore e Marshall McLuhan já o tinham descoberto há 40 anos.
(PM)