Vénia - II
Em 1974, houve, pelo menos, duas Revoluções. Uma em Abril, em Portugal; outra em Junho, na Alemanha. A primeira em tons verde-camuflado e vermelho-cravo, a segunda em laranja-eléctrico. E ambas derrotaram ditaduras: a primeira, fê-lo nas ruas e com tanques; a segunda, fê-lo no relvado. A humilhação que o Uruguai, a Argentina e o Brasil sofreram então às mãos da "Laranja Mecânica" de Cruyff não permitiu, porém, o mesmo efeito que houve em Portugal.
Adolescente, David Winner lembra-se de ter sentido esses novos ares ao ver, pela TV, entrar em campo a selecção da Holanda para o primeiro jogo do Mundial. Sentiu que, mais do que uma equipa de futebol, entrava ali uma nova mensagem estética, ética e política. Quatro anos depois, Winner voltou a sofrer com a derrota da melhor equipa de futebol do mundo, vingada pela Argentina do General Videla, a quem os jogadores holandeses recusaram sequer uma troca de olhares no fim, em sinal de protesto político.
Partindo dessa epifania longínqua, Winner procura entender, não só a psique holandesa e os seus polos contraditórios de perfeccionismo calvinista e neurose latina, mas também como o futebol, num determinado período, foi uma das máximas expressões da sua particular demanda pelo espaço perfeito e racional. Com capítulos como O espaço holandês é diferente, Curvas e A beleza do pensamento, depoimentos de artistas como Hans Van der Meer e alusões à obsessão de Rudolf Nureyev pelos movimentos de Cruyff em campo, este é, na verdade, um ensaio sobre estética e socio-política camuflado de livro sobre futebol. Ou seja, uma proposta tão neurótica e excitante como o seu objecto de estudo. Não foi por acaso que a Time Out o incluiu numa recente lista de "livros de culto".
1 Comments:
Hola!. Gran comentario sobre el libro de David Winner. Hace años que quiero encontrar ese libro. Mi mail es matiasmanna@hotmail.com , si quieres podemos intercambiar libros. Yo vivo en Argentina y hay varios similares a la temática abordada por el gran Winner.
Saludos! Espero contacto.
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