Livros de Areia

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Velhos hábitos

Sequitur: livreiros. Quase dois anos após o início da nossa actividade, e fora alguns exemplos de autêntica excepção (que fomos, sempre que possível, louvando aqui), acentua-se a ideia de que o entrave maior à edição e ao mercado do livro em Portugal passa pelos livreiros, grandes ou pequenos. Na generalidade, continua a ideia de um importante e (ainda) incontornável intermediário que permanece relapso nas suas obrigações básicas: pagamento atempado, encomenda de novidades (mesmo que a consignação, porque a palavra COMPRA parece ser tabu...), e informação aos clientes.
Exemplos: num recente périplo pelo centro de Lisboa (leia-se, em termos de livrarias, do Rossio ao Chiado e volta), em pelo menos duas livrarias de "nome" me disseram na cara (e eu passava ali como mero interessado e possível comprador, não como editor) que não conheciam os Livros de Areia e que "nunca tinham ouvido falar". Em ambas, luzia no balcão, impante, a última edição da Os Meus Livros, onde, na página 59, aparece uma crítica ao Chance, com imagem da capa e nome da editora. E onde, na página15, outras duas referências à editora se fazem... Folgo em poder dizer que obriguei, pelo menos, um dos livreiros a trabalho braçal de consulta da mesma revista. E de uma dessas livrarias tinha vindo, há pouco mais de um ano, um urgente pedido de um dos nossos títulos, para um "cliente especial", que acabou por ser comprado pelo livreiro em questão à cobrança (logo, acima do PVP), contra a nossa sugestão de envio de exemplares à consignação.
Quero continuar a acreditar que os livreiros, se não são capazes de fazer bem qualquer das suas outras actividades, pelo menos lêem, informam-se e passam essa informação a quem a eles recorre, para que não se saia de uma loja de livros de mãos vazias. Mas se vos disser que em nenhuma das referidas livrarias estava disponível um computador com internet, para uma consulta rápida pelo livreiro e pronta resposta ao leitor (e, repito, potencial CLIENTE), facilmente me dirão o que posso fazer com a minha ingenuidade...
(PM)

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro Pedro,

Não resisto a fazer um pequeno comentário. Sou livreira em Espanha e desconheço os detalhes das condições de negócio em Portugal, mas posso dizer-lhe que seja onde for, não faz sentido meter no mesmo saco uma cadeia de livrarias e as pequenas livrarias independentes que ainda resistem.

Concordo que as exigências de Bertrand são inaceitáveis e contra-producentes para as editoras, mas considero ofensiva a sua sanha contra os livreiros em geral. Como em todas as profissões, há de tudo.

Posso garantir-lhe que o pequeno livreiro que investe o seu património pessoal, a sua energia e o seu tempo num negócio que evidentemente não está destinado a criar fortunas, não costuma ser nem ignorante, nem tonto, nem preguiçoso. Só ingénuo. Porque as livrarias independentes (pelo menos em Espanha, mas não tenho a menor dúvida de que em Portugal também)recebem menos desconto comercial, menos tempo para pagar o que compram, practicamente não recebem livros à consignação e, graças a esse serviço de novidades que lhe parece tão bom, o livreiro independente tem que decidir entre receber toneladas de novidades que frequentemente não têm nada a ver com a temática da livraria (isso sim, as devoluções são abonadas duas vezes mais lentamente do que as facturas desse bendito serviço de novidades, que é suposto "facilitar-nos o trabalho") ou nunca receber as novidades editoriais interessantes a tempo e horas, mesmo que faça os pedidos (em firme, claro) com meses de antecedência.
E tudo isto, naturalmente, ao mesmo tempo em que vive numa situação de permanente falta de liquidez. Mas, claro, quem precisa de facilidades são as grandes superfícies e as cadeias...

Assim que pergunto: as condições de negócio que a sua editora oferece às livrarias independentes são as mesmas que oferece às grandes cadeias comerciais? Suponho que não. Então porque é que se empenha não fazer nenhuma distinção entre umas e outras quando fala sobre a qualidade do seu trabalho?

Não entendo como pode um editor considerar os livreiros "inimigos" seus, quando ao fim e ao cabo, são os livreiros quem coloca, recomenda e aprecia os seus livros...

6:18 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Cara Teresa,

em parte nenhuma do meu texto me referi aos livreiros como "inimigos". Mas um livreiro que não presta um cabal serviço ao cliente que lhe entra pela porta (seja vendendo o livro, seja encomendando-o, seja informando simplesmente o cliente) também não pode considerar-se um auxiliar comercial do meu projecto.

Aos livreiros independentes já oferecemos livros, propusemos campanhas de promoção, desculpámos o facto de nunca comprarem livros e aceitámos prazos de pagamento BEM acima dos 90 dias, o que significa, na prática, que declarámos e pagámos o IVA por facturas não liquidadas. Ora isto é uma prova de que continuamos a apostar nos livreiros independentes, apesar de tudo. E posso dizer-lhe que o nosso MELHOR ponto de venda, em termos relativos, é uma livraria independente do Porto.

Mas que um mesmo livreiro que nos contacta desesperado um dia, em busca de um dos nossos livros, nos venha dizer que não nos conhece alguns meses depois, não abona em nada a imagem que queremos ter dos livreiros.

A distinção entre livreiros independentes e cadeias é falaciosa. Existem BONS e MAUS livreiros, como existem BONS e MAUS editores. Livreiros que não leiam os jornais (e são já tão poucos os que têm páginas sobre livros!), que não leiam a ÚNICA revista sobre livros em POrtugal, que não consultem a net regularmente em busca de novidades, e que não saibam passar esta informação aos clientes são, lamento dizê-lo, inúteis para nós.

E afirmo isto tendo quase a certeza de que a Teresa não se inclui neste rol: o facto de estar aqui a discutir significa que sonda a internet, e isto garante-lhe já nota 20 no meu livro.

Atenciosamente,

Pedro Marques

12:50 da manhã  

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