Livros de Areia

sexta-feira, 30 de junho de 2006

Promoção de Verão, pois então...

A Gerência lamenta lembrar que o nosso negócio também é a venda e promoção de livros, e, encaixando com a chegada do Verão, aproveita para apresentar a nossa Promoção de Verão: o "Pacote de Promoção 3 Livros". Na compra desse pacote, pagam apenas 30 euros (poupam 7 euros), e ainda recebem de oferta um livrinho da colecção de teatro da Companhia de Teatro de Almada / Livros de Areia. Ou seja: na prática, 4 livros por 30 euros! Esta promoção é válida apenas durante Julho e Agosto e apenas em compras feitas no nosso site (não inclui portes de Correio e, caso requerido, de envio à cobrança). Mais informações aqui. Se já estão informados q.b., e desejam encomendar, façam o favor, por quem são: podem fazê-lo já aqui.

Agradecimentos da
Gerência

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Das livrarias III

A questão das máquinas de venda de livros no Origem das Espécies é importante e toca um facto incontornável da moda dos livros em Portugal: a obsessão por livros grandes (e o formato arrasta os acabamentos posh - as badanas enormes e vazias, os relevos, o verniz UV, os cortantes barrocos, o ubíquo papel Munken, etc), que se liga à suposta queda de popularidade dos livros de bolso (baratos, colados, sem badanas, etc). Estas máquinas só podem vingar num país com gente sem peneiras de comprar um livro que não tenha na contra-capa, a sangrar, a foto da carinha laroca de um pivot ou de uma menina da Linha e que não exija, para a sua leitura, pose de estado, duas mãos e um colo ou uma mesa de café. Ou seja, a julgar pelo que a responsável pelos livros da FNAC disse aqui, um país que não seja Portugal.
Há uns meses, quando lançámos Em busca do Livro de Areia e, depois, o ensaio Da treta, a pergunta que nos faziam, de forma delicada mas denotando alguma impaciência era: "vocês só vão editar livros pequenos?" Caros senhores fabricantes das maquinetas: depois não digam que não vos avisaram.

terça-feira, 27 de junho de 2006

Das livrarias II

Continua interessantíssima a aportação sobre o tema, tanto no blogue de Cassiel, como no Origem das Espécies de FJViegas, neste cruzado com a questão das Feiras do Livro. Daqui atrevemo-nos a lançar algumas modestas contribuições:
1. Os pequenos (ou tradicionais, no contexto deste debate) livreiros precisam de ser sobretudo proactivos e tecnologicamente aptos. Ainda encontramos livreiros que esperam que o editor lhes ofereça um exemplar de uma edição para pedirem uma consignação... Isto significa que, apesar de se queixarem dos grandes editores e das grande superfícies de venda, têm expectativas que se encaixam no modus operandi destas e daqueles. Do ponto de vista de um pequeno editor, um livreiro sem email, por exemplo, ou que não responda a um email quando se lhe envia informação sobre os livros, não conta. Se as livrarias tradicionais não começarem a trabalhar em conjunto com pequenas/médias editoras, oferecendo ao leitor aquilo que este não tem nas grandes superfícies – destaque a livros que, nas FNAC ou Bertrand ou Continentes, passam despercebidos –, então, para além dos leitores, até para os editores deixará de haver alternativa às grandes lojas.

segunda-feira, 26 de junho de 2006

Cromos vintage: Erico


"Em plena Guerra do Chaco, enquanto os camponeses da Bolívia e do Paraguai marchavam para o matadouro, os futebolistas paraguaios jogavam fora de fronteiras, recolhendo dinheiro para os inúmeros feridos, que caíam sem amparo num deserto onde não cantavam pássaros nem havia rasto de vivalma. Assim chegou Arsenio Erico a Buenos Aires e aí ficou. [...] Tinha escondidos no corpo recursos secretos. [...] Catulo Castillo dedicou-lhe um tango:

Passará un milenio sin que nadie
repita tu proeza

del pase de taquito o de cabeza"

(Futebol: sol e sombra, página 77)

Cromos vintage: Jules Rimet e
Obdulio Varela, 1950


Maracanã, Julho de 1950: a maior multidão jamais reunida num jogo de futebol assistia ao pesadelo da derrota brasileira diante do Uruguai. Os dois relutantes actores da cena: Jules Rimet, presidente da FIFA, e Obdulio Varela, o capitão uruguaio. Rimet: "deambulava pelo campo, perdido, abraçado à taça que levava o seu nome: 'dei por mim só, com a taça nos braços e sem saber o que fazer. Acabei por descobrir o capitão uruguaio, Obdulio Varela, e entreguei-lha quase às escondidas. Apertei-lhe a mão sem dizer uma palavra'”. (página 89)
Varela: "Passou a noite a beber cerveja, de bar em bar, abraçado aos vencidos, nos balcões do Rio de Janeiro. Os brasileiros choravam. Ninguém o reconheceu. No dia seguinte, fugiu da multidão que o esperava no aeroporto de Montevideu, onde o seu nome brilhava num enorme letreiro luminoso. No meio da euforia, esgueirou-se disfarçado de Humphrey Bogart, com um chapéu enterrado até ao nariz e um impermeável de colarinho levantado." (Futebol: sol e sombra, página 91)

Cromos vintage: Chile, 1973


"Durante os jogos de classificação para o Mundial, os soviéticos tinham-se negado a jogar no Estádio Nacional do Chile, que pouco antes tinha sido um campo de concentração e pátio de fuzilamentos. Então a selecção chilena disputou, nesse estádio, o jogo mais patético da história do futebol: jogou contra ninguém, e meteu vários golos na baliza vazia que foram ovacionados pelo público. Depois, no Mundial, o Chile não ganhou nenhum jogo." (Futebol: sol e sombra, página 125)

Cromos vintage: Holanda, 1978


"Ganharam [a final] os argentinos por 3 a 1, e em certa medida a vitória deveu-se ao patriotismo do poste, que salvou a baliza argentina no último minuto do tempo regulamentar. Esse poste, que parou um remate de Rensenbrink, nunca foi objecto de honras militares, por essas coisas da ingratidão humana. [...] Na hora de receberem os troféus, os jogadores holandeses negaram-se a saudar os chefes da ditadura argentina." (Futebol: sol e sombra, páginas 133 e 134) Uma homenagem da Livros de Areia à "Laranja Mecânica", malgré tout: que regressem um dia.

sexta-feira, 23 de junho de 2006

Das livrarias

Interessante aportação sobre a situação das livrarias no blogue de George Cassiel. A colocação dos fotogramas do Farenheit 451 talvez seja demasiado dramática. Ou talvez a situação o seja mais do que aparenta...

Cromos vintage: Andrade


"Quando o torneio acabou, Andrade ficou uns tempos em Paris. Ali foi boémio errante e rei do cabaré. Os botins envernizados substituiram as alpercatas disformes que tinha trazido de Montevideu e uma cartola ocupou o lugar da boina gasta. [...] Morreu tuberculoso e na maior miséria. Foi negro, sul-americano e pobre o primeiro ídolo internacional do futebol." (Futebol: sol e sombra, página 62)

Cromos vintage: Moreno


"Dado à milonga, aos amigos, homem das noites de Buenos Aires, Moreno acordava envolto nas melenas de uma mulher ou apoiado num balcão de bar.
- O tango - dizia - é o melhor treino: marcas o ritmo, muda-lo numa corrida, manejas os perfis, fazes trabalho de cintura e de pernas." (Futebol: sol e sombra, página 83)

Cromos vintage: Heleno


No seguimento da série iniciada por Manuel Jorge Marmelo, aqui apresentamos também alguns cromos da extensa galeria de Eduardo Galeano, exposta em Futebol: sol e sombra. Poucas mas mesuradas palavras para evocar homens (factos ou lendas) dos quais resta apenas o pó da memória.
"Heleno de Freitas tinha estampa de cigano, cara de Rodolfo Valentino e um humor de cão raivoso. Nos campos, resplandecia. Uma noite, perdeu todo o seu dinheiro no casino. Outra noite, perdeu, não se sabe onde, a vontade de viver. E na última noite morreu, delirante, num hospício." (página 88)

quinta-feira, 22 de junho de 2006

Apenas para lembrar...


... que este ensaiozinho continua à venda, por aí (e por aqui): Da treta (On bullshit) de Harry. G. Frankfurt. Achamos que continua tão fresco hoje como há um ano, quando surpreendeu os responsáveis do The New York Times Books Review e deliciou o Jon Stewart, e como há quase vinte anos, quando foi pela primeira vez posto em papel (em plena era dos yuppies). Por cá, António M. Feijó (uma brilhante apresentação na Bulhosa, no início de Abril), José Vítor Malheiros, do "Público", e Sérgio Almeida, do "JN", deram por ele. Mas ainda há esperança para os restantes.

Uma possível explicação


Em conversa com Nuno Santos, sempre atento, surgiu uma hipótese de explicação da (minha, pelo menos) estranheza face a esta nova encarnação da LER: Junho.
Lançar uma revista anual a meio do ano permite esta lassidão dos conteúdos: nem se debruça totalmente sobre o ano anterior, nem se tem suficiente afastamento para falar do ano corrente. Uma revista anual que, daqui a 20 anos, ninguém conseguirá ligar a um ano específico. Algo como mudar sem o fazer de facto, ser não sendo, mostrar sem se desvelar... Ah, a doce brisa de Junho!

PM

terça-feira, 20 de junho de 2006

Só p'ró ano


Nove perguntas, como leitor de revistas e livros e como editor, à volta da revista LER:
1. Como é que uma revista que é, agora, anual (e soletro: A-N-U-A-L) se apresenta com o mesmo número de páginas, o mesmo aspecto e, (surpresa!) sensivelmente o mesmo conteúdo da sua anterior encarnação trimestral?
2. As responsabilidades, em termos de abrangência, no que toca à selecção de uma revista A-N-U-A-L serão as mesmas de uma revista trimestral?
3. Os gatos do senhor Pina (sem desmérito para uns e outro, adoro uns e conheço o outro apenas literária e supercialmente) e o último (com quantos meses já?) romance do pivot Guedes de Carvalho serão, realmente, os pináculos do mundo literário e editorial do ANO de 2006?
(Relembro: estou a falar de uma revista que não vamos LER outra vez senão daqui a um ANO, 52 semanas, 365 dias, etc...)
4. O terramoto (que deu excelentes livros, e revelou um nome, Rui Tavares, e uma editora, Tinta da China), não terá sido um acontecimento de 2005? E não foi já suficientemente explorado nos best-of do final do ano passado?
5. Uma revista, paga por uma instituição que julgamos altamente solvente, e que nunca trabalhou com pressão de prazos ou qualquer sombra de concorrência, não devia mostrar MAIS na sua versão A-N-U-A-L?
6. Não passam, este ano de 2006, 20 anos da morte de Jorge Luis Borges e os mesmos da sua única(?) visita a Portugal? Não me lembro de ter lido nada sobre isso neste número.
7. Com o dinheiro que algumas editoras gastam em advances against royalties por livros que nem valem um terço dessas somas não se faria algo muito mais abrangente, que englobasse um panorama de leitores, livreiros, tendências, etc, do ANO?
8. 2006 marcou a assunção do "Correntes d'Escritas", da Póvoa de Varzim, como um dos maiores, senão o maior, evento literário regular do país. Alguém leu algo sobre isso na LER?
9. Porque é que esta soma não dá certo, como devia dar:
Zembla
(não anual) + The New York Review of Books (não anual) + The London Review of Books (não anual) + ( ...escrevam aqui a vossa proposta... ) ≠ LER ?

Respostas? Pois, só p'ró ano...

PM

A esquiva menina da rádio

Há duas semanas, de mãos amigas, chegou-nos a informação (mais tarde confirmada pelos próprios responsáveis do evento) de que o Francisco José Viegas falou do Futebol: sol e sombra na Antena 1, num programa chamado "Rumo a Berlim", entre as 19 e as 20 horas do dia 8 de Junho, Quinta-feira.
Somos ainda muito pequeninos nestas andanças e não temos ainda o verniz dos genuínos blasés, pelo que uma coisa destas empolga, vinda sobretudo de quem vem. Acontece que a "nossa" (i.e., pública) Antena 1 não guarda registo digital de todos os seus programas no site da RDP (com que critérios seleccionam eles o que devem guardar?...), sendo que o "Rumo a Berlim" é um deles. Daí que se algum generoso ouvinte-cum-arquivista da rádio ler isto e tiver guardado esses esquivos minutos de rádio num ficheiro digital, agradecíamos imenso uma cópia para o nosso arquivo.

segunda-feira, 19 de junho de 2006

AWOL


Vamos a contas: na RTP:2, o "Câmara Clara" é apenas às Sextas, à noite, e os livros são, na sua maioria, apenas colocados em cima da mesa e filmados em discretos travellings ou movimentos de grua (o Futebol: sol e sombra já passou por lá, e não nos queixamos, mais quand même...). O "Livro Aberto" da RTPN parece que entrou de férias, e o blogue já não tem entradas desde o início de Maio... Na SIC Notícias, o "Páginas Soltas" desapareceu igualmente, restando apenas, na RTP1, os livrinhos que o Professor tem tempo de mostrar. Na TVI nem sei se há algum programa sobre/com livros.
Ou seja: a televisão não serve para promover livros? Ou quem lá está não tem tempo ou vontade de o fazer? Pede-se aos leitores que paguem 18 ou 19 euros por um livro e não se pensa em promovê-lo ou discutí-lo ou informar sobre ele na TV?...
PM

Sem discussão

Em Junho, estivemos, inesperada e surpreendentemente (mas sem discussão...), nos Tops de duas livrarias: a Navio de Espelhos, de Aveiro (este publicado no "Mil Folhas"), e a 100.ª Página, de Braga. Estivemos, que é como quem diz: esteve o Rhys Hughes, com Uma nova história universal da infâmia. Well done, Mr. Hughes! Aos leitores e livreiros a quem este post é dirigido, o nosso agradecimento

domingo, 18 de junho de 2006

Rhys Hughes na BBC Radio 2!


Rhys Hughes, o autor de Uma nova história universal da infâmia, que esteve este ano em Lisboa, Porto e Monção a promover o livro, foi entrevistado pela BBC Radio 2, no programa The Weekender (02.06), a propósito de Flann O'Brien (um dos seus autores de culto) e da sua ligação ao fenómeno da série Lost. Isto prova que o tímido galês, depois dos media portugueses, começa a atrair atenções também nas Ilhas. Caso para dizer: heard you on the Beeb, mate!

Projectos : Jeff VanderMeer


Estamos a preparar a edição de um pequeno volume de 3 contos de Jeff VanderMeer, autor norte-americano praticamente desconhecido entre nós, e que ganhou já por duas vezes o World Fantasy Award. Uma dessas vezes foi pelo conto The transformation of Martin Lake, que dará o título ao nosso livro: A transformação de Martin Lake & outras histórias. A selecção dos textos e a tradução são de Luís Rodrigues, editor do Fantastic Metropolis.
Tal como aconteceu já com Em busca do Livro de Areia & outras histórias, esta será uma edição limitada a 200 exemplares, numerados e assinados/autografados pelo autor, e que visa a sua promoção entre leitores e imprensa. Trata-se de ficção fantástica de altíssima qualidade, que a crítica atenta tem aproximado de Calvino e Borges. VanderMeer é também editor, tendo arriscado em nomes como o "nosso" Rhys Hughes e Zoran Zivkovic (editado entre nós pela Cavalo de Ferro).
Apresentação em 24 de Julho, às 21:30 na FNAC do Colombo.

Projectos : Blanca Riestra


Blanca Riestra, uma jovem autora galega, é um dos nossos projectos para o resto do ano com o seu último livro, El sueño de Borges. Um livro fascinante, meio romance histórico, meio fábula erudita, à volta dos últimos dias de Jorge Luis Borges, professor em Harvard, de um sonho que atormenta o escritor de forma recorrente e do Lente de Espanhol da universidade a quem ele pede para o anotar... Sonho apenas, ou labirinto para a perdição final de ambos? De Harvard nos anos de 1980 a Praga no século XVII, a capital de Rudolfo II e da Magia Negra, é essa a alucinante viagem que Riestra propõe ao leitor.
Blanca Riestra foi jornalista da "Voz de Galicia" e do "ABC", trabalhando actualmente para o Instituto Cervantes.

Editar futebol: jogada de risco II

E não falamos apenas de livros. O panorama das edições audiovisuais é ainda mais pobre. Como se justifica a paupérrima colecção de DVD sobre "estrelas" do futebol que o "Público" ofereceu há tempos? Que vem ela acrescentar?

Porque é que ninguém edita por cá The other final de Johan Kramer, um dos melhores documentários dos últimos anos e uma ideia brilhante (opor, no mesmo dia da final do Mundial de 2002, as duas últimas equipas do ranking da FIFA, Butão e Montserrat, numa jogo disputado nos Himalaias)? Ou En un momento dado, de Ramon Gieling, sobre a estranha, mágica e neurótica relação de Cruyff com a Catalunha, que vem já dos tempos de Franco (exibido em 2004 no Rivoli do Porto)? E os documentários da BBC sobre o Futebol e o Fascismo?

Ao lermos o livro de Galeano somos invadidos por uma enorme vontade de ver. Simplesmente ver. Ver Beckenbauer com o braço ligado na meia final com a Itália em 1970, ver os jogadores holandeses recusarem cumprimentar o general Videla em 1978, ver qualquer coisa do "Maracanazo" de 1950, ver pelo menos uma jogada do Garrincha. Onde ver essas imagens? No caos da programação de Verão do Cabo, lá conseguimos ver uns documentários da (inevitável) BBC ou a excelente série brasileira C.O.P.A (na RTP-África). Pouca coisa e dispersa. Na RTP-Memória, nada. Arriscamo-nos a que o que Manuel Jorge Marmelo escreveu aqui se torne profético.

Editar é também lutar contra esse caos da informação. Mas um público sujeito a uma oferta audiovisual sem nexo e ordem, terá vontade de ir às livrarias ler sobre o que acabou de ver?

Editar futebol: jogada de risco


Acabámos de colocar no mercado um livrinho de futebol. Vinda de uma editora que se quer "séria" esta frase pode ser, quase paradoxalmente - tendo em conta o suposto peso atávico do jogo na nossa psique e vida social -, um ante-passo para o suicídio. Ou pelo menos para uma lesão séria no menisco mesmo perto da linha final.

Para um país que diz cultivar o futebol, a oferta de bons livros sobre o mesmo é ridiculamente escassa. A começar por esta nossa edição do livro de Eduardo Galeano, que resgatámos do olvido de mais de uma década. Pusemo-nos o desafio de editar algo sobre futebol que não manchasse este nosso incipiente catálogo, e, na busca, encontrámos títulos interessantíssimos, alguns best-sellers, TODOS eles sem edição lusa. Football: the brazilian way of life de Alex Bellos? Dynamo de Andy Dougan? Ajax ou Footbal against the enemy de Simon Kuper? Ou esse genial (e já um livro de culto) Brilliant Orange de David Winner (pessoalmente, um dos ensaios mais fascinantes que li este ano, ao mesmo tempo rigoroso e audacioso, uma homenagem à geração de futebol holandês dos anos 70 que é também um ensaio de história das mentalidades e uma tese sobre estética: o conceito de jogo que a "Laranja Mecânica" de Cruyff trabalhou mais não sendo, segundo Winner, do que uma extensão da particular noção de espaço que sempre obcecou os Holandeses)? Para já não falar desse inesgotável manancial sul-americano de grandes cronistas (leiam o textinho de Osvaldo Soriano no Futebol: sol e sombra do Galeano e percebam...). E, já agora, possíveis reedições de livros que morreram nas prateleiras há muito: alguém se lembra - ou leu - Maracanã, adeus de Edilberto Coutinho?

Afinal, que cultura de futebol temos? Uma cultura umbiguista e paroquiana, que nos leva sempre às memórias dos lagartos, leões, águias, dragões e magriços, e que é incapaz de aceitar nas prateleiras livros sobre a selecção brasileira de 1970, uma autobiografia de um dos húngaros voadores de 1954 ou um relato de como os modestos uruguaios dos anos 1920 mudaram a face do futebol moderno. Porquê tantos livros sobre Mourinho, quando há uma biografia de Rinus Michels por aí em Nederlandês? Não seria melhor conhecer o Mestre antes de aprender com mais um dos seus inúmeros discípulos?

Na hora da escolha de um livro de futebol, o mercado português obriga o editor a pensar como os defesas que já têm um cartão amarelo: devia ir àquela bola, mas valerá o risco? Afinal, é apenas futebol...

Pedro Marques - editor, Livros de Areia